Investigar alega "falta de visão" para momento atual da investigação
O investigador Bruno Silva-Santos, do Instituto de Medicina Molecular afirmou hoje que não houve um desinvestimento na ciência, mas sim uma "falta de visão" por parte dos responsáveis, considerando tratar-se de uma área que tem de ser mais protegida.
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País Ciência
"Não acho que se possa dizer que houve um desinvestimento na ciência, existe sim uma falta de visão que a ciência tem de ser mais protegida do que, eventualmente, outras áreas numa situação de carência que é a que vivemos", disse em declarações à Agência Lusa.
Bruno Silva-Santos considera que há uma "política mal compreendida pela comunidade científica" no que diz respeito ao dinheiro que está a ser investido, considerando que o Governo não retirou dinheiro à ciência para colocar numa outra área o que implicaria sim o chamado desinvestimento.
"Aquilo de que o Ministério da Educação e Ciência e a Fundação para a Ciência e Tecnologia podem ser acusados é de uma comunicação deficiente com a comunidade científica", sublinhou.
Considerando não se poder queixar da questão do financiamento, uma vez que possui uma bolsa europeia, Bruno Silva-Santos explica que o processo de avaliação às unidades científicas, em curso, tem de ser feito "com muita transparência e comunicação".
"Por um lado, ninguém gosta de ser considerado como erva daninha e por outro, é preciso ter a certeza que só as ervas daninhas estão a ser podadas e não estamos a cortar as coisas boas que é o que se alega neste momento", frisou.
Bruno Silva-Santos alerta para o facto de se correr o risco dos investigadores, dentro da comunidade de pós-doutorados, estarem a ficar fora daqueles que vão ser financiados.
"O que acontece é que não há forma de financiar as bolsas de pós-doutoramento em Portugal. Até abrirem os tais concursos, que não sabemos quando vai ser, já há um 'gap' gigantesco em relação ao último concurso. Houve muitas poucas bolsas individuais atribuídas",
O investigador adianta não perceber como é que os investigadores "mais qualificados" considerados como "os grandes motores" da investigação nacional possam vir a trabalhar caso não tenham financiamento nacional e não consigam projetos europeus,
"Há uma situação muito difícil. A FCT devia esclarecer, em detalhe, como pensa que os pós-doutorandos vão ser mantidos para não haver desinvestimento e se é através daqueles projetos [que já anunciaram] e quando é que os abrem. Há uma grande incerteza que gera insatisfação e desconfiança", reiterou.
A presente avaliação às unidades científicas, necessária para as instituições captarem fundos para os próximos cinco anos, levou a que, na primeira fase, quase metade das unidades avaliadas não tivesse direito a financiamento, ou apenas tivesse verbas residuais, até 40 mil euros anuais.
De acordo com o processo de avaliação, apenas passam para a segunda fase os centros com nota superior a "bom". Porém, nesta fase, para conseguirem um financiamento suplementar, sem teto máximo fixado, têm de ter a classificação de "muito bom", "excelente" ou "excecional". Abaixo destas notas, as unidades só receberão um montante até 400 mil euros por ano.
A FCT, agência pública que subsidia a investigação científica, tem invocado que o processo de avaliação decorre com "total transparência, rigor e isenção", considerado a Fundação Europeia para a Ciência uma entidade credível e com experiência para a seleção dos avaliadores.
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