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Da semente ao tear: três mulheres perpetuam o ciclo do linho

Da semente ao fio no tear: são apenas três as mulheres de Limões que completam o ciclo do linho, uma tradição muito antiga que foi passando de geração em geração nesta aldeia do concelho de Ribeira de Pena.

Da semente ao tear: três mulheres perpetuam o ciclo do linho
Notícias ao Minuto

11:18 - 27/07/14 por Lusa

País Ribeira de Pena

Limões é terra "limada", de muita água, e onde o linho é uma tradição milenar. Houve tempos em que em todas as casas se ouvia o bater ritmado do tear e os campos se enfeitavam com a flor azul da planta do linho.

Hoje em dia já são poucas as artesãs que continuam a tecer e apenas três as mulheres que perpetuam este ciclo moroso e complexo.

Maria Augusta é uma delas. Os seus 70 anos foram passados nesta aldeia, onde muito nova aprendeu a tecer, mas também a semear a linhaça que dá depois origem aos fios de linho.

É lá para abril que começam os trabalhos na terra, a qual se prepara para receber a semente. Depois, em julho, é arrancada a planta que, em molhos, é submersa em poços ou tanques durante nove dias e depois fica mais nove dias a corar ao sol e a apanhar nove orvalhos.

Maria Augusta cumpre este calendário com rigor. Já em casa é preciso maçar, espadar antes de ir à roca, depois ao sarilho, passar na dobadoura, nas canelas e só depois chega ao tear.

"O trabalho dura praticamente o ano inteiro. No inverno, aproveitamos os serões à noite para começar a fiar", afirmou à agência Lusa.

Também Maria Fernanda, 59 anos, cumpre todas estas voltas que o linho dá. Neste trabalho que diz ser "duro e difícil", conta com a ajuda da filha Margarida Fernandes, uma das mais novas tecedeiras da aldeia.

Nesta altura, tem a planta metida no poço. Maria Fernanda gosta desta espécie de magia, em que uma pequena semente dá origem a peças de arte.

"É um trabalho um pouco sujo mas acaba por ser uma arte muito bonita", salientou.

Margarida está desempregada e aproveita para ir criando peças nos teares que têm montados lá em casa.

Praticamente todo o linho que usam é o que produzem. "As pessoas procuram mais o caseiro do que o industrial. É mais caro e dá mais trabalho mas a qualidade é muito melhor, as peças ficam mais bonitas", salientou.

A grande diferença, segundo explicou, é a cor. "O caseiro é mais escurinho e o algodão sobressai mais, enquanto no industrial, como é mais claro, já não sobressai tanto", sublinhou.

Margarida Fernandes disse à Lusa que gostava de poder viver do rendimento do linho, mas lamentou que são poucas as peças que se vão conseguindo vender, pois as encomendas são cada vez menos. "Gosto muito daquilo que faço", confessou.

Maria Augusta passa agora menos tempo no tear, pois tem que conciliar com o trabalho na lavoura. As queixas são as mesmas. Segundo frisou, são poucos os que aparecem a querer comprar.

Esta artesã diz que em Limões se tem mesmo "paixão pelo linho". Tem é pena que agora sejam poucas a dar vida à arte e de não haver gente nova a quem transmitir o saber.

Para dinamizar e promover esta arte, é inaugurado na quinta-feira, nesta aldeia, o Museu do Linho, onde se vai poder observar o ciclo do linho, ver trabalhar ao vivo as artesãs e até, quem quiser, se pode sentar ao tear e até aprender.

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