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PIDE interrogou suspeitos do golpe no próprio dia da revolução

A polícia política do Estado Novo (Pide/DGS) fez detenções e interrogou elementos ligados à revolução de 25 de Abril na madrugada do próprio dia do golpe militar, disse hoje à lusa o historiador e jornalista Jacinto Godinho.

PIDE interrogou suspeitos do golpe no próprio dia da revolução
Notícias ao Minuto

17:13 - 24/04/14 por Lusa

País Investigação

"A PIDE/DGS esteve a atuar naquele dia (25 de Abril de 1974) e conseguiu inclusivamente prender pessoas, que não levou para a rua António Maria Cardoso, levou-as para o Governo Civil e estava-as a interrogar na altura em que o Salgueiro Maia estava a obter a rendição de Marcelo Caetano", disse à Lusa Jacinto Godinho, autor de uma investigação inédita à polícia política, que vai ser transmitida sexta-feira na RTP.

Para o investigador da Universidade Nova de Lisboa e jornalista da RTP, tudo o que se passa em torno da PIDE/DGS (Polícia Internacional de Defesa do Estado/Direção Geral de Segurança), desde a madrugada do dia 25 até ao dia 26 de abril de 1974 são acontecimentos "determinantes" e que definem o Movimento das Forças Armadas, "as hesitações" e as primeiras "lutas intestinas" que começaram de imediato após o golpe militar.

De acordo com Jacinto Godinho, a PIDE/DGS não sabia o plano de operações dos militares revoltosos, "que era muito vasto", mas tinha a informação de que alguma coisa estava a acontecer.

"A PIDE não iria impedir o golpe por duas razões: em primeiro lugar porque um golpe de militares é impedido por militares e em segundo lugar era estratégia da polícia política, desde o golpe de Beja (01 de janeiro de 1962), que os golpes saíssem às ruas para depois prenderem os responsáveis", explica Jacinto Godinho.

O que a polícia política fazia em relação aos civis eram prisões preventivas por suspeita de envolvimento em organizações clandestinas, mas em relação às Forças Armadas o comportamento era distinto.

Normalmente, era necessário que os militares revoltosos que estivessem envolvidos em alguma conspiração fossem demitidos da hierarquia militar e só depois é que a polícia os podia prender, uma regra que apenas teve exceção no Golpe das Caldas (16 de março de 1974).

"Em relação ao 25 de Abril a estratégia era deixar sair, esperar que as forças leais ao governo atuassem. Eles estavam convencidos de que depois da prisão daqueles que eram os elementos mais importantes. Ou seja, depois da prisão de Almeida Bruno e Manuel Monge a seguir ao 16 de março e depois do exílio de Melo Antunes e de Vasco Lourenço qualquer movimento não teria gente para o liderar", diz Jacinto Godinho.

A investigação do jornalista refere que a PIDE tinha de proteger as instituições do regime em caso de golpe de Estado, assim como garantir a segurança do presidente do Conselho de Ministros, Marcelo Caetano, e do presidente da República, Américo Tomás.

"O que é curioso é que nós não sabemos bem a partir de quando é que a ação da polícia acabou. Se foi, ou não, por ação dos generais", afirma Godinho, destacando a vontade declarada de Costa Gomes e de Spínola em manter a polícia política.

"Mais tarde, os disparos efetuados pela PIDE na sede em Lisboa são determinantes no que diz respeito a decisões sobre o próprio futuro da instituição", diz Godinho sobre o ataque dos agentes da PIDE contra a população e que fez quatro mortos e 45 feridos.

"A única coisa que sabemos é que a PIDE foi a última instituição do regime a render-se e que se preparou para se defender com unhas e dentes", disse Jacinto Godinho destacando o papel da população das cidades de Lisboa e Porto no envolvimento espontâneo contra a polícia política.

"A primeira coisa que [a] atacou foram as instituições que mais odiava: a censura e a polícia política e deu o corpo ao manifesto. Alguns destacamentos populares investiram contra a instituição que mais odiava. Isso aconteceu no Porto, de forma surpreendente, e, com surpresa, em Lisboa", conclui Jacinto Godinho.

A investigação que inclui as informações sobre a atividade da PIDE no próprio dia 25 de Abril vai ser transmitida sexta-feira, às 22:00 na RTP-Informação.

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