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Os nossos políticos são "uns garotos ignorantes"

Os militares de Abril que comandaram a revolução de 1974 consideram que os políticos que atualmente governam Portugal são "uns garotos, ignorantes, sem experiência", e que serão precisas três gerações para se chegar a uma classe política competente.

Os nossos políticos são "uns garotos ignorantes"
Notícias ao Minuto

10:10 - 22/04/14 por Lusa

País Militares

"Nós hoje estamos a viver uma situação que leva muitos de nós a pensar como é que vai ser o futuro. Ou seja, eu acho que os nossos atuais políticos são uns garotos, que nunca fizeram nada na vida, que não têm experiência de nada e que nos estão a levar para um buraco, que não sei como vamos sair dele", disse à Lusa o general Garcia dos Santos, um dos seis oficiais das Forças Armadas que comandaram o golpe militar de 25 de abril de 1974 a partir do quartel da Pontinha, em Lisboa.

A propósito dos 40 anos do 25 de Abril, a Lusa reuniu na Pontinha Amadeu Garcia dos Santos, Otelo Saraiva de Carvalho, Vítor Crespo e José Sanches Osório (Nuno Fisher Lopes Pires e Hugo dos Santos morreram em 2013 e em 2010, respetivamente), que recordaram os principais momentos vividos e acabaram por fazer um retrato desencantado do país e pouco elogioso da classe política que o governa.

A falta de experiência de quem lidera o destino do país é apelidada pelo general Garcia dos Santos de "pesada herança do passado".

"Os nossos políticos hoje são uns ignorantes, porque no tempo do Salazar havia o paizinho que tratava de tudo. E ninguém se preocupava com nada porque ele obrigava a que fosse assim. Nós não ficámos com capacidade de ter pessoas -- o que não quer dizer que não haja exceções, obviamente -- que sejam capazes de pôr o país a funcionar como deve ser. [...] Nós vamos ter este problema durante mais duas ou três gerações e não sei como é que vamos sair dele", declarou o general do Exército, acrescentando: "Deus queira que eu me engane".

Garcia dos Santos admitiu já ter questionado se o MFA tomou a melhor decisão ao dar cumprimento a um dos principais pontos do programa dos militares: terminada a revolução, entregar o poder à sociedade civil.

"Há uns tempos atrás pensei assim: eh pá, nós se calhar fizemos asneira. Se tivéssemos mantido por mais alguns tempos o poder na mão dos militares as coisas, se calhar, hoje, não seriam como são. Mas isso era extremamente perigoso. Porquê? Porque aquilo que nós, MFA, fizemos, não teria possibilidade de êxito numa situação dessas. Porque muitos dos nossos militares, façamos-lhes essa justiça, não pensavam como nós. E, portanto, poderia vir aí mais um 'ditadorzeco' que levava isto outra vez para o mesmo sistema que estava antigamente", disse.

À sociedade civil, considerou o capitão de Abril, falta o "sentido de responsabilidade dos militares" e a capacidade de planear o futuro.

O almirante Vítor Crespo entende, ainda assim, que o MFA e a revolução deram ao país "uma estrutura democrática que se mantém" e recusa culpar a Constituição que se forjou no pós-25 de Abril pelo atual 'estado da arte'.

"A Constituição tem uma estrutura democrática avançada para a época. Penso que não é por razão dela que o país tem passado as vicissitudes que tem passado, mas pelas pessoas que integram essa estrutura. Isto é, não se tem criado aqui um clima de responsabilidade equivalente à estrutura democrática que foi criada, e da qual eu me orgulho muito", referiu o almirante, que fez parte do Conselho da Revolução.

Criado em 12 de março de 1975, o Conselho da Revolução substituiu uma fragilizada Junta de Salvação Nacional, liderada pelo general Spínola, que esteve à frente do fracassado golpe contrarrevolucionário de 11 de março desse ano, depois de ter apoiado o MFA e a revolução.

Ao Conselho da Revolução coube garantir o regular funcionamento das instituições no período de transição para a democracia, tendo sido extinto por altura da revisão constitucional de 1982.

Outro dos capitães que estiveram no posto de comando da Pontinha, Sanches Osório, integrou também o Conselho da Revolução, mas foi expulso por Vítor Crespo.

Não contesta a decisão tomada pelo almirante, porque, referiu, "as pessoas evoluem, não pensam todas da mesma maneira", mas Vítor Crespo admitiu à Lusa que essa foi uma decisão que tomou "com alguma mágoa".

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