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Máquinas substituem tradições na produção do vinho

A evolução tecnológica e a crescente mecanização do setor vitivinícola fizeram com que tradições como a vindima manual com dezenas de pessoas ou a pisa do vinho, que atravessaram gerações no concelho do Cartaxo, caíssem em desuso.

Máquinas substituem tradições na produção do vinho
Notícias ao Minuto

09:56 - 10/11/13 por Lusa

País Cartaxo

Conhecida como uma das zonas do país mais conceituadas na produção vitivinícola, o Cartaxo assistiu nas últimas décadas a uma profunda inversão nos métodos e nas tradições utilizadas pelos vitivinicultores, muitos deles hoje visíveis apenas no Museu Rural e do Vinho do concelho.

"As tradições, como a vindima realizada por 100 ou 200 pessoas, muitas vindas do norte do país só para isso, os cantares, as vestes e as adiafas [festa feitas no final da vindima], além da pisa da uva nos lagares típicos caíram em desuso. Hoje, com a vindima mecânica e com a evolução tecnológica ao nível da produção, essas tradições são apenas residuais", explicou à agência Lusa, Pedro Gil, enólogo da Adega Cooperativa do Cartaxo.

O especialista em vinho, de 44 anos, salientou que uma das principais razões que levaram à gradual diminuição destas tradições foi o desaparecimento, na década de 1980, de muitas casas agrícolas do concelho que eram as grandes dinamizadoras destes métodos seguidos de geração em geração.

A partir daí, com a tecnologia, os produtores foram adotando as novas tendências, acima de tudo, por uma questão de custos.

"As máquinas de certa forma substituíram o homem com sucesso. Hoje em dia faço a vindima mecânica com mais três pessoas, que é o equivalente ao trabalho feito por 100 pessoas há 30 ou 40 anos. Naquele tempo uma pessoa apanhava 600 quilos num dia, hoje vindimamos 60 toneladas", sublinhou Joaquim Travessa, um dos poucos vitivinicultores do Cartaxo que ainda faz questão de ter produção própria.

O agricultor, de 46 anos, produz cerca de 200 mil litros de vinho por ano, entre brancos e tintos, nos cerca de 30 hectares que tem na freguesia de Vila Chã de Ourique, local onde faz venda ao público.

Joaquim Travessa recorda os serões com dezenas de trabalhadores a pisarem as uvas nos lagares da adega do seu pai. Há cerca de 15 anos que o vitivinicultor se dedica exclusivamente à produção do vinho, juntamente com a esposa, mas diz ser caso raro no Cartaxo.

"Mais de 90% dos produtores do vinho aqui da zona limitam-se a apanhar as uvas e a levarem-nas para a adega. Muitos foram obrigados pelas exigências legais, pois não compensava fazer todo o processo de produção. Há ainda meia dúzia de teimosos, como eu, que ainda mantêm produção própria, mas praticamente todos trabalham com as novas tecnologias", salientou o vitivinicultor.

Na Adega Cooperativa do Cartaxo -- que, num ano normal, recebe entre oito a nove milhões de quilos e produz seis a sete milhões de litros de vinho por ano - o enólogo Pedro Gil confirma a tendência.

"Atualmente, 70 a 80% das uvas que a adega recebe anualmente dos cerca dos 300 sócios é vindimada à máquina. A produção é também feita através de métodos mecanizados", frisou o especialista, que aconselhou uma visita ao Museu Rural e do Vinho do concelho do Cartaxo, onde podem ser vistas e recordadas algumas das tradições perdidas no tempo.

JYS // ROC

Noticias Ao Minuto/Lusa

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