China retirou protagonismo ao Japão em África

A ‘entrada em força’ da China em África retirou protagonismo ao Japão enquanto principal parceiro asiático de desenvolvimento do continente, onde aplica ajudas anuais de perto de 1.000 milhões de dólares, afirma o investigador Pedro Amakasu Raposo.

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Lusa
16/04/2013 11:11 ‧ 16/04/2013 por Lusa

Mundo

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Docente na Universidade Lusíada do Porto e convidado de terça-feira do Seminário do Centro de Estudos Africanos (ISCTE/IUL), numa palestra dedicada às políticas de cooperação chinesa e japonesa em África, Raposo afirma que a China é um parceiro “muito mais atractivo” para os países africanos do que os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que condicionam a sua ajuda à democracia e direitos humanos nos países beneficiários.

“A China veio retirar protagonismo ao Japão, que queria ser ele o representante da Ásia em África”, disse à Lusa o investigador, doutorado no Japão.

"A China tem uma política mais pragmática, continua a não se importar muito com questões de Direitos Humanos, não lhe faz grande confusão. O Japão tem de proteger sempre a face e, como país desenvolvido, as questões de direitos humanos são muito importantes”, adiantou.

O apoio japonês está hoje ligado à recolha de apoios para a candidatura a membro permanente do Conselho de Segurança, depois de no início se ter aproximado de África à procura de recursos naturais e, sobretudo a partir da década de 1980, ter tentado "mudar de imagem".

Tal como a China hoje, o Japão quis assumir-se como proponente de um novo modelo de desenvolvimento para África alternativo ao do Consenso de Washington, comungando ambos os países da rejeição das suas receitas “neoliberais” de privatização e abertura de mercados.

“Para a China [o modelo alternativo] significa mais comércio e cooperação económica. Para o Japão, significa mais transferência da sua experiência asiática, do seu modelo de crescimento económico”, começando pelas infra-estruturas básicas, da Educação à Agricultura.

Também como a China, o Japão pauta por uma ajuda ao desenvolvimento à margem de questões políticas e da não-ingerência em assuntos internos dos países beneficiários.

“O que a China está a fazer agora, já o Japão o fez no passado. Mas agora é um país desenvolvido e tem de pautar-se pelas regras da OCDE”, afirmou.

Por ano, disse o investigador, a ajuda ao desenvolvimento japonesa destina-se a infra-estruturas sociais, como água e saneamento ou educação, oscilando entre 1.000 milhões e 1.500 milhões de dólares, além de ser dos principais financiadores da ONU, a par dos Estados Unidos.

Enquanto a China é frequentemente criticada por países ocidentais ou organizações não-governamentais por fazer negócios e prestar ajuda a países com mau historial a nível de democracia e direitos humanos, a carta de ajuda ao desenvolvimento do Japão proíbe-o expressamente.

Segundo Raposo, o envolvimento chinês, frequentemente criticado pelos prejuízos ambientais ou falta de transparência, tem sido importante para o desenvolvimento de infra-estruturas de transportes, como acontece com Angola e Moçambique.

O "paradigma mudou" com a entrada em cena de Pequim, obrigando a maiores esforços para assegurar a complementaridade da ajuda entre parceiros, como exemplifica o apoio japonês à desminagem.

“O que interessa fazer uma ponte se a estrada está minada? Fazer um hospital se a volta está tudo minado?”, questionou Amakasu Raposo.

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