EUA dizem que não houve crime de guerra em ataque a hospital
Os Estados Unidos concluíram que os militares norte-americanos que no ano passado bombardearam um hospital na cidade afegã de Kunduz não cometeram um crime de guerra, porque não agiram intencionalmente, segundo um relatório divulgado hoje pelo Pentágono.
© Reuters
Mundo Afeganistão
O ataque, que suscitou indignação internacional e levou o Presidente norte-americano, Barack Obama, a pedir publicamente desculpas, ocorreu a 03 de outubro de 2015 em Kunduz, no norte do Afeganistão, e matou 42 pessoas: 24 doentes, 14 membros da organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras e quatro seguranças.
O relatório do Pentágono, de 3.000 páginas, conclui que o bombardeamento do hospital não foi deliberado e recomenda apenas suspensões administrativas ou reprimendas para os 16 militares norte-americanos envolvidos no incidente.
O chefe do comando militar norte-americano para o Médio Oriente e Afeganistão (CENTCOM), o general Joseph Votel, afirmou à imprensa que a tragédia se deveu a uma sucessão de "erros e falhas".
"O inquérito concluiu que alguns membros do pessoal [militar] não respeitaram as regras operacionais e a lei dos conflitos armados. Por outro lado, o inquérito não chegou à conclusão de que esses erros constituíram um crime de guerra", disse.
O general sublinhou que "o termo crime de guerra é tipicamente reservado a atos intencionais, como tomar deliberadamente como alvo civis ou locais ou objetos protegidos", e insistiu que o ataque resultou "de uma combinação de erros humanos, erros processuais e falhas técnicas" e que nenhum dos militares "sabia que estava prestes a atacar um hospital".
Os Médicos Sem Fronteiras, que na altura qualificaram o ataque de "violação grave da lei humanitária internacional" e pediram uma investigação internacional, voltaram hoje a exigir um inquérito "independente e imparcial" conduzido por uma "comissão internacional humanitária".
Tendo em conta que as forças norte-americanas sabiam que "o hospital funcionava em pleno no momento dos ataques aéreos" e que "o inquérito norte-americano reconheceu que não havia combatentes armados no hospital (...) é incompreensível que o ataque não tenha sido anulado", afirmou a ONG num comunicado publicado em Nova Iorque.
Para a organização, as sanções administrativas decididas não são proporcionais "à destruição" e às mortes causadas, pelo que "a pouca contundência" dos EUA é não só "um sinal preocupante" como insuficiente para "prevenir futuras violações das leis da guerra".
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