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"Eu vivi no limiar, era uma prisão onde estavam terroristas"

O jornalista egípcio-canadiano Mohamed Fahmy, preso mais de um ano no Cairo acusado de favorecer a Irmandade Muçulmana, considerou que o mundo vive um dos seus piores momentos de ataque aos direitos humanos e à liberdade de expressão.

"Eu vivi no limiar, era uma prisão onde estavam terroristas"
Notícias ao Minuto

11:04 - 25/11/15 por Lusa

Mundo Jornalista

"Encarcerar jornalistas da forma como fui, é simplesmente inaceitável. Passei 438 dias atrás das grades na maior parte do tempo na ala da prisão dedicada a terroristas, como membros da Al-Qaida e do Estado Islâmico. Eram extremistas que não têm qualquer respeito pela humanidade ou democracia", disse.

Mohamed Fahmy esteve em Nova Iorque para participar num seminário promovido pela Universidade de Columbia, na terça-feira.

Desde setembro de 2013, Fahmy ocupava o posto de chefe do escritório da estação de televisão Al-Jazira em inglês no Cairo. A dezembro daquele ano, o jornalista, o repórter australiano do canal Peter Greste e o produtor egípcio Baher Mohamed foram detidos, acusados de conspiração e de atuar a favor da Irmandade Muçulmana.

Fahmy foi condenado pelo Supremo Tribunal egípcio a sete anos de prisão, numa cadeia de segurança máxima. Após um novo julgamento em janeiro deste ano, o australiano foi libertado e, a 15 de setembro, a condenação do chefe do escritório do canal foi perdoada.

"Eu sobrevivi devido ao apoio e pressão externos que tivemos. Todas as petições assinadas fizeram a diferença na nossa defesa", disse.

Para sobreviver na ala chamada "Escorpião", onde estavam os condenados por terrorismo, Fahmy contou que precisou se reinventar e procurar manter a sanidade.

"Eu vivi no limiar da situação, era uma prisão onde estavam terroristas. O meu estado mental, físico e espiritual foram postos à prova. Passei um mês numa cela onde eu não via a luz do sol e não sabia que horas eram. Não tive acesso à higiene e estava com um ombro partido", relatou.

Na prisão, contou, inventou um programa de rádio de improviso para passar o tempo.

"Estávamos em celas separadas, mas havia pequenas janelas que permitiam ver os olhos dos outros prisioneiros e comunicar. Para nós, era como se fosse uma entrevista exclusiva. Perguntava aos elementos de grupos extremistas sobre o que pensavam".

Segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), existem cerca de 20 jornalistas atualmente presos no Egito. É provável que este número seja ainda maior, indicou Fahmy.

O jornalista denunciou que a imprensa está a ser alvo tanto de governos como de grupos extremistas.

"Está a ser cada vez mais difícil trabalhar na profissão. Há muitos governos que não têm respeito nenhum pela liberdade de expressão", disse.

Desde que foi libertado, Fahmy vive em Vancouver com a esposa e decidiu criar uma fundação no Canadá para apoiar a causa de jornalistas presos e ajudá-los a financiar os custos legais da sua defesa.

"Os jornalistas que ainda estão presos não podem ser esquecidos", enfatizou.

O próximo passo será tentar recuperar a sua cidadania egípcia, a que teve que renunciar para poder ser libertado. Mas ainda não pensa regressar à linha da frente do jornalismo.

"Ainda vai levar um tempo até eu voltar a trabalhar como jornalista de novo, mas continuarei a lutar pelo direito de liberdade de imprensa", disse.

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