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No "hotel dos refugiados" de Viena o rececionista é guineense

Perto do centro de Viena há um hotel cujos funcionários são refugiados acolhidos na Áustria, entre os quais um rececionista vindo da Guiné-Bissau.

No "hotel dos refugiados" de Viena o rececionista é guineense
Notícias ao Minuto

10:53 - 13/10/15 por Lusa

Mundo Áustria

"Vim para o MagDas porque para mim este é um dos melhores projetos que vi na Europa para dar oportunidade às pessoas", disse à Lusa Dinis Angsberg, guineense de 29 anos que trabalha no hotel MagDas. "Decidi vir para cá para poder dar um exemplo, ser um bom exemplo para os outros."

Os colegas de Dinis vêm "de 14 nações diferentes", e têm em comum ter chegado à Áustria para pedir asilo como refugiados. Trabalham num hotel inaugurado em fevereiro deste ano, que visa dar uma primeira experiência profissional na Europa a asilados, e transformar a imagem dos refugiados na Europa.

Natural da ilha de Pecixe, Dinis Angsberg (o apelido sueco vem de uma família adotiva) teve de deixar a Guiné-Bissau quando ainda tinha apenas 17 anos. Dinis conta que conhecia o então Presidente guineense, "Nino" Vieira. Frequentava o palácio presidencial e "andava sempre a passar documentos" a jornalistas para denunciar casos de corrupção. Por causa disse teve de fugir da Guiné-Bissau em 2003, embarcando como clandestino com dois companheiros num barco italiano.

O seu objetivo era chegar a Hamburgo e daí seguir para a Suécia. Mas foi descoberto pela tripulação "no meio dos contentores". Os tripulantes "trataram-nos bem" e levaram-nos para Itália; a viagem acabou na Áustria.

Em Viena teve de estar à espera mais de dez anos por uma autorização de trabalho. Entretanto, teve aulas de alemão, fez formações, fez voluntariado em lares para idosos e até jogou futebol na versão amadora do Rapid de Viena: "Nunca gostei de estar sem nada para fazer."

No ano passado teve a oportunidade de fazer parte da equipa fundadora do Magdas: "Trabalhar para a Caritas é uma forma de agradecer a ajuda" que recebeu da organização, diz Dinis.

O hotel MagDas (em alemão, o nome significa "gosta disto") pertence à divisão de "negócios sociais" da Caritas austríaca. A organização de caridade de inspiração católica concedeu 1,5 milhões de euros em financiamento ao projeto, que deverá ser "pago em cinco anos", disse à Lusa Sara Barci, responsável de marketing do MagDas.

O hotel fica junto ao Prater, mais famoso parque de Viena, e tem vista para a roda gigante que é um dos ex-libris da cidade. Os preços são relativamente baixos para padrões vienenses. Barci garante que a resposta dos clientes tem sido "excelente" e que a taxa de ocupação do MagDas anda entre "os 80 e os 100 por cento". Isto apesar de, para muitos hóspedes, o MagDas ser só um hotel como os outros: "Metade dos clientes nem conhece o conceito."

O MagDas é por enquanto caso único, mas Barci diz que o "hotel dos refugiados" pode ser visto como um projeto piloto, a repetir por outras organizações ou em outros países: "Um MagDas em Lisboa? Porque não?"

A imprensa internacional, em busca de histórias diferentes para contar sobre a 'crise dos refugiados, tem sido visita frequente do MagDas: "Há muito interesse dos 'media' pelo projeto" afirma Sarah Barci.

Um dos alvos desse interesse é Dinis. O rececionista guineense também é uma espécie de porta-voz oficioso do MagDas: desde que o hotel abriu, já deu entrevistas a inúmeros jornalistas austríacos e de outros países. A conversa com a Lusa, aliás, teve de ser encurtada porque Dinis já tinha à sua espera uma jornalista francesa.

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