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Novo diário El Español arranca com vontade de mudar jornalismo

Nada é convencional no El Espanõl, novo diário digital que arranca quarta-feira pela mão do antigo diretor do El Mundo, Pedro J. Ramírez.

Novo diário El Español arranca com vontade de mudar jornalismo
Notícias ao Minuto

16:18 - 06/10/15 por Lusa

Mundo Espanha

À primeira vista parece uma enorme zona de 'wifi' de aeroporto, com dezenas de pessoas a teclar de pé, em volta de mesas circulares, engravatados de suspensórios a conviver com jovens de casacos camuflados e rapazes a circular em patinete entre as bancadas.

Ana Romero, adjunta do diretor, recebe-nos à porta pelas 19.00 e diz o mesmo que qualquer jornalista de um diário em papel: "Estamos numa confusão tremenda. O diretor está em reunião a fechar a capa". Capa? Num jornal digital? Mas o jornal não arranca apenas na noite de quarta-feira, e mesmo assim só em versão 'beta' (experimental)?

Ana explica: o El Español pode ser exclusivamente digital, pode ter sido criado e projetado a pensar no digital e nos seus suportes, mas os subscritores vão ter a sensação de estar a ler, nos seus 'tablets', um jornal convencional.

Na aplicação 'web' do El Español os leitores poderão ler a informação de todos os dias navegando horizontalmente e verticalmente. E a página estará dividida: numa parte as notícias, histórias, crónicas e peças do dia, mais trabalhadas, e noutra, aquilo que no El Español se chama "o Rio", um fluxo constante de informação de última hora - sob a forma de notícias 'breaking news', 'tweets', imagens.

Por isso o El Español também terá "capa". E a pouco mais de um dia de arrancar o projeto, a reunião de diretores está a trabalhar uma "uma capa falsa", a treinar mecanismos nas vésperas do grande dia.

Até chegar à véspera do lançamento, o caminho do El Español não foi fácil. O jornal nasce com o fim da ligação de Pedro J. Ramírez ao El Mundo, um dos principais diários espanhóis, que fundou em 1989 e dirigiu durante 25 anos, até fevereiro do ano passado. Entre acusações de pressões políticas [relacionadas com a divulgação de casos de corrupção de ex-membros do PP, partido atualmente no poder] e pressões empresariais, Pedro J. Ramírez saiu do El Mundo com uma indemnização multimilionária, que agora usou para lançar o El Español.

Os fundadores do jornal reuniram quase 18 milhões de euros para o lançar: 3,5 milhões de euros através de 'crowdfunding' e o resto veio da indemnização de Pedro J. Ramírez.

A expectativa em Espanha é e tem sido grande: mais de 10 mil pessoas já são subscritoras do jornal. "Ainda sem terem visto um 'pixel', sem terem lido uma linha do jornal", reflete Ana Romero, antes de acrescentar que tal se deve "ao prestígio de Pedro J. Ramírez, ao seu 'valor marca' no jornalismo espanhol".

Pedro J. Ramírez (Logroño, 1952) dirige jornais desde que tinha 28 anos. Em 1980, depois de uma passagem pelo ABC, assumiu a direção do Diario 16 e nove anos depois fundava e dirigia o El Mundo. Sempre no papel. Agora acredita que o El Español pode reinventar o jornalismo espanhol, forçando os outros a seguir o mesmo caminho.

"O El Español poderá dizer como Falstaff [a personagem de várias peças de Shakespeare]: 'Não só sou engenhoso pelo meu próprio génio, mas também pelo engenho que produzo nos outros', pelo que estimulo nos demais. O El Español é um fator de inovação e de mudança no jornalismo espanhol, tanto pelo que vamos trazer, mas também pelo estímulo para que os outros também melhorem e se reinventem. Portanto estou contente com o impacto que já estamos a ter antes de começar", diz Pedro J. Ramírez à agência Lusa.

O seu jornal, sublinha, "será o primeiro jornal importante que nasce como um meio nativo digital e portanto vai utilizar todas as possibilidades das novas tecnologias e especialmente os dispositivos móveis para desenvolver um jornalismo rigoroso e, ao mesmo tempo, útil para a sociedade".

Membro da "nobreza" do jornalismo espanhol, Pedro J. Ramírez exerceu o seu poder gravitacional, captando e contratando alguns dos melhores jornalistas que exerciam no seu antigo título. Ana Romero também veio de lá e diz que "o El Español é, provavelmente, o meio onde se escreve de forma mais livre em Espanha". O diretor diz que essa foi o principal apelo para quem aqui trabalha.

"Creio que vamos ser um meio independente e todos os jornalistas que se juntaram a nós sabem-no. E provavelmente essa foi uma das razões pelas quais decidiram incorporar-se. E têm razão: os nossos acertos ou erros serão nossos, não fruto de nenhum tipo de pressão. Nós, os fundadores do jornal, controlamos folgadamente a maioria do capital e portanto vamos ser muito livres", sublinha Pedro J. Ramírez.

O El Español terá "a investigação no seu ADN", afirmando-se como um "protetor dos leitores" face a todos os poderes instituídos em Espanha, dizem os seus diretores, apontando para os vários adjetivos "Protetor, Vigilante, Impulsionador, Indomável, Independente, Livre" gravados nos vidros das portas e para o símbolo do jornal, um leão.

No seu pequeno gabinete, Ana Romero tem uma caixa de madeira para munições "7.62 x 51 mm NATO espanõl" onde arruma cadernos e canetas. Quais serão as "balas" para os primeiros dias do El Español, que surge a dois meses das eleições gerais em Espanha?

Ana Romero ri-se. "Pela forma como Pedro J. Ramírez saiu do El Mundo toda a gente pensa que daqui vão sair 'bombas' contra o Governo. Digo apenas que vão sair coisas boas", refere.

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