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Demissão de Varoufakis foi "gesto para ajudar à obtenção de um acordo"

Uma académica grega disse hoje à Lusa que a demissão de Yanis Varoufakis foi um "gesto para ajudar o Governo grego a obter um novo acordo" e frisou que o presidente do Eurogrupo "há muito que deveria ter sido demitido".

Demissão de Varoufakis foi "gesto para ajudar à obtenção de um acordo"
Notícias ao Minuto

16:38 - 06/07/15 por Lusa

Mundo Syriza

"A demissão de Yanis Varoufakis foi um gesto para ajudar o Governo grego a obter um novo acordo com os credores europeus", disse em declarações à Lusa Athena Athanasiou, professora no departamento de Antropologia Social na universidade Panteion de Ciências sociais e políticas em Atenas e próxima do Syriza.

"O objetivo dessa decisão consiste em contribuir para um processo no qual o capital político adquirido pelo Governo grego através de um resoluto voto 'Não' no referendo seja investido numa solução viável e justa", precisou.

A académica, vice-presidente do Instituto Nicos Poulantzas, com ligações ao partido no poder na Grécia e membro da comissão grega dos direitos humanos, considerou ainda que "se esta fosse uma Europa democrática, o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, há muito que deveria ser sido demitido".

Ao admitir que o ex-ministro das Finanças grego optou pela demissão "sob pressão de algumas das instituições dos credores europeus", Athena Athanasiou destacou a sua "contribuição notável" durante as negociações com os credores internacionais "e na promoção da política grega de travar a austeridade e o desastre social".

"É por isso que foi tão profundamente detestado pelos representantes mais conservadores da ortodoxia neoliberal", frisou.

A antropóloga social, também manifestou "admiração" pelas palavras de Varoufakis quando anunciou a demissão: "Transportarei com orgulho o ódio dos credores". E precisou: "Este é o 'ethos' político da esquerda: valorizar a ação coletiva e não os privilégios individuais das funções oficiais".

Ao pronunciar-se sobre os resultados do referendo de domingo, que rejeitou por uma maioria de 61,3% as propostas da UE-BCE-FMI, considerou que a população "resistiu à estratégia do medo que foi imposta pelo 'establishment' local e estrangeiro".

Uma "tática do medo" que para além de não ter "funcionado a seu favor" teve um efeito oposto.

"Fez aumentar o sentimento de resistência do povo grego e por isso este é um grande momento não apenas para a Grécia mas para toda a Europa. Os povos da Europa podem agora sentir que há esperança, que há alternativa. A nossa vitória hoje é a vitória contra a doutrina do neoliberalismo, a doutrina de que não há alternativa", afirmou a académica.

Athena Athanasiou definiu o voto de domingo como a confirmação de uma "alternativa" no combate à austeridade e à injustiça social. "O voto 'Não' foi um voto pela Europa, mas por uma Europa democrática, de participação, igualdade e justiça social", sublinhou.

"Vamos recomeçar com melhores condições porque o que era problemático nestas negociações era a distribuição do poder entre as duas partes das negociações. Agora, a nossa parte está mais forte e a outra mais fraca. Mudámos os termos e as relações de distribuição do poder na Europa", disse ainda, antes de manifestar a esperança de num acordo para breve.

"Fomos expulsos da mesa das negociações porque pedíamos um acordo viável", sustentou. "Estou otimista que isto ocorra muito rapidamente, e parece que a outra parte, a parte dos burocratas europeus, teve em consideração estes resultados do referendo".

A responsável do Instituto Poulantzas denunciou ainda o "gesto de chantagem" relacionado com a situação dos bancos e manifestou-se por um rápido acordo com os credores para "alivar a contínua pressão" sob o povo grego.

"Se analisarmos o resultado do referendo vemos que o povo grego não estava muito zangado com o facto de ter de esperar em filas nas caixas multibanco, estava mais zangado pela chantagem imposta pelos nossos interlocutores", acrescentou.

Sobre o processo negocial, interrompido desde finais de junho, definiu a justiça social como a questão crucial.

"Ninguém diz que de repente, como por milagre, a situação se vai alterar alegremente. O que dizemos é que precisamos de mais justiça, não há limite para mais medidas de austeridade contra um povo empobrecido".

Por fim, delineou os objetivos defendidos pelo Governo do partido da esquerda radical: "Outros segmentos da população precisam agora de pagar. As medidas de austeridade aplicadas nos últimos cinco anos foram horizontais, envolveram toda a população sem terem em consideração a hierarquia social, as diferenças entre pessoas com posses e os deserdados. Essas medidas devem ser revistas e corrigidas".

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