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O renascer da radiotelevisão pública "virada para a vida das pessoas"

Após dois anos de interrupção às ordens do anterior governo, a radiotelevisão pública da Grécia (ERT) retomou as emissões em 11 de junho com o objetivo prioritário de "ir encontro da vida das pessoas".

O renascer da radiotelevisão pública "virada para a vida das pessoas"
Notícias ao Minuto

10:26 - 30/06/15 por Lusa

Mundo Grécia

O imponente edifício da ERT, na zona norte de Atenas a caminho do aeroporto, é um labirinto de corredores e salas espaçosas, muitas ainda desocupadas. Um espaço que voltou a animar-se após a readmissão dos cerca de 1.000 trabalhadores, na maioria jornalistas, que recusaram aderir ao novo projeto mediático estatal, a NERIT, entretanto dissolvida pelo Governo Syriza.

Em 2013, quando a ERT foi abruptamente encerrada em 11 de junho pelo ex-governo de coligação ND-Pasok do primeiro-ministro Antonis Samaras, trabalhavam na estação 3.000 pessoas. O vasto edifício foi de imediato ocupado pelos trabalhadores, desalojados numa operação policial em dezembro de 2013, sendo as instalações colocadas ao serviço do novo canal.

Na ocasião, cerca de 900 pessoas "aderiram" à NERIT enquanto os restantes, à exceção dos que se reformaram, mantiveram uma ERT alternativa, que transmitia via internet ou por televisão analógica e em condições muito difíceis. Até à recente decisão em retomar o símbolo da antiga estação e estendê-la a todo o país.

Agora, 2.000 trabalhadores voltaram a compartilhar o edifício-sede. Os dois grupos "rivais" trabalham lado a lado, aparentemente sem grandes problemas e após o Governo Syriza ter decidido designar para diretor-geral da ERT um antigo colaborador dos governos do Pasok, de início contestado por alguns setores mas que confirmou o lugar.

"Nas atuais e extraordinárias circunstâncias, a função da radiotelevisão estatal é mais importante. Este serviço serve a população, mas quando uma sociedade está em crise o serviço público tem uma função decisiva", diz no gabinete que ocupa há poucas semanas Nicolas Tsimpidas, 40 anos, ex-repórter parlamentar e o atual diretor da ERT rádio, com sete canais "temáticos" e nível nacional e um dos três segmentos deste serviço público, a par da televisão e da internet.

Perante um panorama mediático no país "muito desigual", e dominado pelas televisões privadas que "apoiam a austeridade e estão do lado do FMI e da 'troika'", o novo diretor da ERT rádio assegura que a grande prioridade consiste em fornecer "o outro lado da realidade", a "vida das pessoas", mas sem necessidade de manifestar qualquer "simpatia por qualquer governo", e "escutando sempre" todas as opiniões.

"Nos últimos cinco anos, anos de crise e intervenção da 'troika', essas televisões não fizeram uma única reportagem sobre os sem-abrigo, pessoas sem eletricidade, crianças com fome, desempregados", afirma.

E na segunda-feira, nenhum desses canais privados fez a cobertura da manifestação pelo "não" ao referendo do próximo domingo sobre os termos do acordo entre Atenas e os credores, que reuniu dezenas de milhares de pessoas em Atenas.

"Após uma luta de dois anos pela reabertura da emissão, estivemos ao lado da sociedade com mais dificuldades e foi por isso que mantivemos a ERT viva. Tínhamos a sociedade do nosso lado, a nossa televisão e a rádio tornou-se também na voz dessas pessoas", assinala.

"Agora, que voltámos a ser a radiotelevisão oficial, temos de fazer o mesmo, e sentimos que é nosso dever fazer o que fizemos nos dois últimos anos".

No entanto, e nesta delicada "batalha mediática", Nicolas Tsimpidas assegura que a vocação da nova ERT não é apoiar "um governo ou um partido", apesar de nunca esconder a sua antipatia pelas "políticas neoliberais", como refere, impostas ao país desde 2010.

"Ao reportar o que os outros não fazem, pensamos que essa atitude é suficiente para equilibrar o campo mediático. Porque no atual esquema, todo o peso é 'pró-troika'", insiste, para se congratular com a "subida das audiências da ERT" que já ultrapassou as da NERIT.

"Não propomos a saída da crise, mas também é nosso dever recolher as opiniões que propõe uma saída para a crise e apresentá-las à população", esclarece ainda, numa alusão à nova linha editorial da radiotelevisão pública.

"Nos debates, convidamos todos os partidos, mas temos de lhes fazer as perguntas às quais não pretendem responder. É isto que torna a ERT credível, forte e respeitada. Temos de insistir em fazer o nosso trabalho de uma forma jornalística".

Na sexta-feira, e dois anos depois - quando foram despedidos em 2013 receberam uma pequena indemnização -, os trabalhadores reintegrados da ERT voltaram a receber o seu salário, cerca de 80%, com o restante a ser pago após a conclusão dos ajustamentos de pessoal.

"De 2010 a 2013 a redução salarial foi cerca de 30%, e desde então até agora mais 25%. No total, desde 2010, perdemos 50% do nosso salário. Um jornalista com 20 anos de profissão e licenciado recebe hoje na ERT cerca de 1.040 euros mensais", informa.

Ao contrário dos restante canais privados, que optaram por fazer campanha pelo ?sim' no referendo de domingo, a ERT denota uma atitude mais neutral, e continua a convidar representantes de todo o espetro político. O diretor da ERT rádio está convencido que essa é uma das "grandes forças" do canal.

"É isso que fazemos de diferente, porque nas restantes estações de televisão e rádio apenas se tem uma opinião. Tiramos vantagem da nossa rede a nível nacional e escutamos todos os setores da sociedade, dos políticos e banqueiros aos pequenos empresários e trabalhadores. Porque todos eles votam", enfatiza.

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