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Camiões-bomba são a "força aérea" do Estado Islâmico

O grupo extremista Estado Islâmico está a mudar as regras da guerra com o recurso generalizado a camiões-bomba que, pelo impacto comparável ao de um ataque aéreo, constituem uma autêntica "força aérea dos pobres", afirmam especialistas.

Camiões-bomba são a "força aérea" do Estado Islâmico
Notícias ao Minuto

18:25 - 29/05/15 por Lusa

Mundo Especialista

No assalto à cidade de Ramadi, capital da província iraquiana de Al-Anbar tomada em meados de maio às forças governamentais, os 'jihadistas' usaram 30 camiões carregados com toneladas de explosivos, destruindo posições do exército e milícias aliadas que resistiam há mais de ano.

Na ofensiva que lançaram em junho do ano passado no Iraque, os 'jihadistas' têm recorrido a veículos blindados de transporte de tropas, carrinhas de caixa aberta ou camiões-tanque pilhados aos adversários que carregam com toneladas de explosivos e envolvem com uma armação de aço.

Quando uma posição está demasiado bem defendida para um ataque convencional, usam um desses camiões-bomba, conduzido direito ao alvo.

"Estão protegidos do fogo das 12,7mm (metralhadoras pesadas) e até de alguns RPGs (lança-granadas-foguete) e têm tantos explosivos (dentro) que são eficazes mesmo a 50 metros", explicou um especialista militar iraquiano à agência France Presse.

Os vídeos de ataques com camiões-bomba, que o Estado Islâmico também usou na batalha de Kobane, no norte da Síria, e noutras frentes, mostram enormes explosões visíveis a quilómetros de distância.

"Os estragos são maiores que os provocados por uma bomba de meia tonelada largada por um caça-bombardeiro", explicou o mesmo especialista. "Os camiões-bomba são a força aérea deles", acrescentou.

O impacto é semelhante ao de "uma pequena bomba nuclear", disse por seu lado o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, ao defender-se das críticas dos Estados Unidos que acusaram o exército iraquiano de "falta de vontade de combater" em Ramadi.

O uso pelos 'jihadistas' de camiões-bomba - designados militarmente pela sigla SVBIED ("Suicide Vehicle-Borne Improvised Explosive Device", ou engenho explosivo improvisado transportado por veículo suicida) - remonta à invasão norte-americana no Iraque, mas os especialistas estão de acordo que foi intensificado.

"As ofensivas (do Estado Islâmico) no Iraque podem ser a primeira vez que VBIED foram usados como parte da ordem de batalha de uma grande força ofensiva numa guerra no Médio Oriente", admitiu Andrew Terrill, professor no Instituto de Estudos Estratégicos do Exército dos Estados Unidos.

Este tipo de dispositivos foi usado pelos Tigres Tamil, no Sri Lanka, em ataques-suicida com veículos armadilhados em simultâneo com ataques de infantaria, mas Mike Davis, autor de "Breve História do Carro Armadilhado", sublinha que se tratava apenas de "ataques a solo" usados para desencadear confrontos.

"O ataque a Ramadi foi 'choque e pavor' numa escala completamente diferente", disse, referindo-se à doutrina militar de uso de força avassaladora para criar a perceção de força dominante no campo de batalha.

Os mais de dez camiões-bomba usados no ataque a Ramadi transportavam explosivos suficientes para provocar uma explosão da dimensão da do atentado de 1995 em Oklahoma, que fez 168 mortos e mais de 500 feridos, segundo uma fonte do Departamento de Estado norte-americano citada pela agência.

Segundo Davis, os explosivos usados em Oklahoma "eram o equivalente ao carregamento de bombas do bombardeiro pesado B-24 na II Guerra Mundial".

Após a queda de Ramadi, os Estados Unidos enviaram 2.000 armas antitanque não-guiadas AT4 para equipar as forças iraquianas para o combate aos camiões-bomba dos 'jihadistas'.

"São boas em espaço aberto, mas não são guiadas, pelo que se (o camião) vier na sua direção, têm de ficar de frente para ele. Quando o camião estiver a 100 metros já é demasiado tarde. E numa cidade, como Ramadi, por exemplo, é praticamente impossível", explicou Davis.

Milhares de membros das forças militares iraquianas e de milícias aliadas do governo tentam isolar Ramadi para lançar uma operação para recuperar a capital provincial, mas o primeiro-ministro admitiu que entrar na cidade é arriscado.

"Decidimos não combater dentro das cidades por causa dos camiões-bomba, que não se conseguem ver nas cidades por causa das ruas pequenas", disse Al-Abadi à BBC.

"O maior mito militar do século passado era de que o poderio aéreo podia por si só derrotar os insurgentes. Os camiões-bomba estão a criar um novo paradigma", considerou Mike Davis.

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