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China começa a rugir, mas não tem interesse em fazer a a guerra

A armada e o exército chineses têm vindo a modernizar-se, comprando muito armamento russo, mas é através do comércio que a China se pretende impor como potência mundial, considera o investigador Paulo Duarte.

China começa a rugir, mas não tem interesse em fazer a a guerra
Notícias ao Minuto

15:10 - 08/05/15 por Lusa

Mundo Investigador

O autor prestou declarações à Lusa antes da apresentação do livro "Metamorfoses no poder: rumo à hegemonia do dragão?", uma adaptação da sua tese de mestrado, defendida na Universidade Católica de Lovaina, publicado pela Chiado Editora e que é apresentado hoje ao fim da tarde no Museu do Oriente por Armando Marques Guedes.

Recordando que, durante anos, a China procurou dar a conhecer ao mundo uma via alternativa ao Consenso de Washington que se resumia a "nós, chineses, fazemos negócio, não impomos regras de democracia e respeitamos as questões internas de cada Estado", o investigador do Instituto do Oriente, do ISCSP-UTL, considera que a manutenção dessa postura meramente comercial seria um erro grave para um país que se quer afirmar como potência mundial.

Destacando que a China está muito atrasada face aos EUA no que diz respeito ao 'soft power', o poder de atrair e influenciar outros países, e ao 'hard power', o poder de coerção por via militar ou económica, Paulo Duarte assegura, todavia, que ela se mostra cada vez mais interessada nos assuntos internacionais, nos recursos energéticos e na segurança alimentar.

"Os chineses são muitos e precisam de comer. Muitas vezes são apreendidos navios chineses no Atlântico devido a concorrência desleal ou captura de espécies cuja pesca é proibida. Também tentam comprar terrenos e investir um pouco por toda a América Latina e África, em busca de alternativas para um povo com necessidades crescentes a nível energético e alimentar, com vista à sua ascensão pacífica", afirma o investigador.

Como tal, o país tem estado mais interventivo na cena internacional, enviando navios para zonas de pirataria e participando em missões da ONU em zonas de conflito, e tido uma posição diplomática mais vincada em relação a algumas disputas territoriais, as quais visam sobretudo o controlo de recursos energéticos.

"A China de Xi Jinping tem um maior pragmatismo a nível das suas disputas territoriais, onde tem estado mais ativa. Ela não nos deixa esquecer que há um gigante que ruge, embora, no fundo, a China não tenha interesse, neste momento, em fazer guerra -- nem mesmo com Taiwan", sublinha o investigador.

Recordando que "a China aproveitou as dificuldades das multinacionais norte-americanas e europeias em estarem presentes em países a que no Ocidente chamamos estados-pária para obter monopólios de recursos energéticos", Paulo Duarte salienta ainda o uso do chamado 'equity oil' por parte da China, que "constrói uns hospitais, umas escolas, umas infraestruturas e concede uns créditos vantajosos em troca do acesso às matérias-primas desses países" e, por vezes, de apoios nas Nações Unidas para as suas pretensões territoriais sobre Taiwan e algumas ilhas do Pacífico.

Segundo o autor, o interesse chinês em algumas ilhas do Pacífico prende-se com a existência de petróleo e gás natural, os mesmos recursos que têm levado a China "a ver se explora os recursos do Ártico" e a instalar já quatro estações polares na Antártida.

"Existe uma proibição de perfurar no Ártico e na Antártida, mas vamos ver se a preocupação com a ecologia e com a preservação do meio ambiente vão prevalecer, como tem acontecido até agora, sobre os imperativos energéticos e outros", realça, acrescentando que o Oceano Ártico também tem sido alvo da atenção chinesa enquanto alternativa sazonal de ligação marítima à Europa, por encurtar o trajeto pelo Pacífico em muitas milhas.

Os projetos chineses de construção de uma ligação ferroviária na Ásia Central, para que haja um comboio de alta velocidade a unir a Europa à China, como alternativa ao avião, ou a construção de um novo canal que ligue o Atlântico ao Pacífico na Nicarágua, não obstante a oposição local devido aos impactos ambientais negativos de mais esta alternativa ao Canal do Panamá, foram igualmente destacados pelo autor do livro "Metamorfoses no poder: rumo à hegemonia do dragão?".

Mesmo em áreas que ficam nos seus antípodas, como o Atlântico Sul, a China tem estado cada vez mais ativa, "embora ainda não tenha uma estratégia delineada", e pode "dar um contributo a nível da pesquisa e trabalhar com o Brasil para exercer um contrapeso à presença dos EUA" na região, uma parceria que pode ser importante para ambos os países.

"Em Angola, que é um exportador riquíssimo a nível de recursos energéticos, olha-se para a China como um modelo de desenvolvimento. A China está envolvida num projeto que visa criar uma ligação ferroviária de Angola à Contracosta, para mais facilmente conseguir exportar os produtos de Angola e de outros países africanos sem ter de passar pelo Cabo da Boa Esperança. Isto tudo numa óptica de rentabilização de espaço e de tempo", salientou Paulo Duarte.

"Um pouco mais acima, Cabo Verde, que não é rico em petróleo nem em outras coisas que os chineses procuram, é um país com uma dimensão geoestratégica fundamental, pois está na confluência entre a Europa, a África e a América Latina, servindo de base de abastecimento e plataforma logística, tal como a Base das Lajes, nos Açores", acrescentou Paulo Duarte.

E se a China vier a ocupar várias bases, isso não deve necessariamente causar pânico no Ocidente, diz o investigador que se prepara para integrar o Centro de Relações Internacionais em Maputo, pois a China não é uma potência antiocidental mas "um polo não-ocidental de desenvolvimento e que pode também ter um papel ativo na segurança humanitária mundial".

‘Metamorfoses no poder: rumo à hegemonia do dragão?’ vai ser ainda apresentado no dia 12 de maio, no ISCTE-IUL por António Costa Pinto e José Paulo Esperança, e no dia 19 de maio, na Embaixada de Portugal em Luanda, a convite do Camões -- Instituto da Cooperação e da Língua.

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