"De momento não temos nenhum elemento, hoje, que o impeça. Teremos que ver o que faremos [perante uma suspensão do Tribunal Constitucional]. Mas o processo neste momento caminha sozinho", disse Joana Ortega em entrevista à Agência Lusa.

Ortega falava à Lusa no seu gabinete no 7º andar de um dos edifício da Generalitat (o Governo regional) na mesma altura em que em Madrid a vice-presidente do Governo espanhol, Soraya Saénz de Santamaria, anunciava a decisão de impugnar a consulta alternativa aos catalães a 9 de novembro.

Saénz de Santamaria indicou que hoje mesmo o executivo espanhol levará ao TC um recurso para impugnar a consulta, considerando que o voto proposto viola competências e não cumpre critérios democráticos.

A nova consulta, disse, é claramente inconstitucional e até pior do que a anterior - suspensa pelo Tribunal Constitucional - porque carece de garantias democráticas.

Sáenz de Santamaría criticou igualmente o presidente do Governo regional, Artur Mas por evitar assumir, pessoalmente, qualquer responsabilidade pelo voto, depositando-a apenas nos cidadãos e nos funcionários que Madrid, disse, "quer proteger".

Instada a comentar a decisão, Ortega acusou Madrid de "desinformar", insistindo que o processo vai ser gerido por voluntários e não por funcionários e questionando o "surrealismo" da postura do Governo que primeiro considerou a consulta alternativa "uma anedota" e agora a recorre.

"Dizem-nos que isto é uma anedota, porque não tem as garantias democráticas. Mas antes tínhamos. Uma consulta com uma lei e com todas as garantias democráticas. Mas nessa altura disseram-nos que não, que não podia ser. E avançámos para este processo de participação. É um processo de democracia pura", disse.

Ortega insiste igualmente que há garantias do processo, que há normas, que os voluntários estão destacados já e que o sistema criado impossibilita que se possa votar duas vezes.

Sobre a possibilidade de o Governo espanhol recorrer às forças de segurança para fechar os locais de voto que possam abrir, Ortega disse esperar "que isso não aconteça", insistindo que o executivo regional sempre foi partidário de respeitar as leis e as normas.

"De todas as formas este é um processo que caminha sozinho. Espero que o governo do Estado tenha suficiente grau de responsabilidade para deixar que as coisas sucedam como sucedam na Catalunha. Onde tem havido manifestações pacíficas, cívicas e e muito democráticas", afirmou.

"Está tudo preparado, os voluntários sabem o que tem que fazer, sabem onde tem que votar, as pessoas tem muita vontade de participar. Estamos num momento em que, abram-se ou não os colégios, e eu estou convencido que se abrirão, as ruas estarão cheias de gente", disse.

"Eu no dia 9 espero estar com muita gente na rua, espero que tudo esteja preparado e que possam conciliar a legalidade com a legitimidade e que possamos votar. Vou votar em Eixample, o bairro onde vivo. Já vi onde tenho que votar", disse.