Cruz Vermelha discorda do fecho das fronteiras no combate à epidemia
A Federação internacional da Cruz Vermelha considera arriscado o fecho das fronteiras na luta contra a epidemia do ébola, referiu hoje à Lusa um colaborador da organização.
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Mundo Ébola
"A Cruz Vermelha não trabalha com o fecho das fronteiras. Não é a nossa abordagem. A nossa abordagem é manter o diálogo com as pessoas afetadas e com as comunidades vulneráveis, escutar as comunidades e os suas inquietudes e ajudá-las a entender as dinâmicas do surto", disse à Lusa o coordenador de saúde em emergência Panu Saaristo.
Interrogado sobre as restrições de viagens implementadas pelos governos apesar da Organização mundial da saúde não proibir as viagens, o coordenador respondeu: "nós vemos um risco já que as pessoas que viajam precisam de sustentar as suas famílias (...) Elas não viajam por turismo. Isso é bastante válido no caso das fronteiras terrestres".
Assim, as pessoas que continuam a viajar em trabalho vão tornar-se mais vulneráveis perante o ébola, porque vão estar fora do sistema de controlo.
Para este responsável, é melhor manter o diálogo e entender os medos dos países e adaptar as medidas de controlo da epidemia.
No caso de ilhas, como São Tomé e príncipe ou Cabo Verde, o coordenador indicou que "em teoria, é mais fácil controlar uma ilha e é mais complicado fechar fronteiras terrestres. Mas o mundo é pequeno e pessoas tornaram-se mais móveis".
Para o coordenador da Cruz Vermelha, a forma mais eficaz de prevenir o ébola é "tomar medidas para formar o pessoal de saúde e voluntários, comunicar as mensagens corretas (...) para que todos estejam preparados (...) se aparecer um caso que viajasse para estes países seria mais fácil de controlar a situação".
A gestão de uma crise epidémica é composta por uma cadeia de elementos interligados em que todos devem funcionar para derrotar a epidemia. Se um elemento do sistema falha, o tempo para conter a epidemia aumenta, assim como o número de pacientes, sustentou.
O desafio é que "no sistema inteiro todos elementos têm de estar presentes para que possamos ter o controlo da epidemia de forma rápida e efetiva", refere Panu Saaristo.
As atividades de prevenção, de monitorização dos contactos dos pacientes e de gestão dos corpos são alguns dos elementos desta cadeia.
Sendo assim, as epidemias não se podem encarar como um terramoto, onde geralmente se atinge um pico e depois se vai melhorando pouco a pouco.
Este tipo de combate envolve um investimento inicial elevado para controlar a situação, mas no caso do ébola a resposta não foi imediata.
"Geralmente, os surtos de ébola costumam ser rápidos, explosivos e curtos. Mas, isso não vai acontecer na África ocidental e não aconteceu. Esperar que o surto acabe não foi uma boa estratégia. Mas não sabíamos isso antes. (...) Agora a situação está a ser encarada de forma mais séria pela comunidade humanitária internacional (...) Estamos a mobilizar mais.", concluiu.
Desde de março, a Federação internacional da Cruz Vermelha trabalha em 13 países, Guiné-Conacri, Libéria, Serra Leoa e Nigéria e em grande escala na Costa do Marfim, Mali, Senegal, Camarões, Benim, Togo, Chade, Republica Centro Africana e Gâmbia.
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