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Hungria recorda Holocausto, comunidade judaica desconfia

A Hungria começou hoje a assinalar os 70 anos do Holocausto ocorrido sob a ocupação nazi, num clima de profunda desconfiança entre o poder e as organizações judaicas.

Hungria recorda Holocausto, comunidade judaica desconfia
Notícias ao Minuto

19:49 - 16/04/14 por Lusa

Mundo Nazismo

Foram organizadas cerimónias por todo o país em memória dos 600.000 judeus húngaros assassinados, 150.000 dos quais morreram antes da invasão alemã, em 1944.

Na cidade de Pécs, no sul do país, perto da fronteira croata, o presidente da câmara leu os nomes e as idades de várias dezenas de alunos do liceu Szechenyi mortos na deportação, antes de descerrar uma placa em memória deles e de plantar uma "árvore da vida" no pátio.

Os estudantes daquela escola estavam visivelmente comovidos e uma jovem desmaiou, indicou um repórter fotográfico da agência de notícias francesa, AFP.

Iniciaram, em seguida, uma marcha de várias horas por todos os lugares simbólicos da tragédia naquela cidade de 150.000 habitantes: o gueto, a estação ferroviária, a antiga escola judaica e a sinagoga.

Uma lei que pune o branqueamento do Holocausto foi adotada durante o primeiro mandato do primeiro-ministro conservador e populista, Viktor Orban, mas este é acusado pelos seus críticos de ter simpatizado com as teses do partido de extrema-direita Jobbik, ao mesmo tempo que os incidentes antissemitas se multiplicaram nos últimos anos na Hungria.

"A dor da comunidade judaica da Hungria é partilhada por todos os húngaros", escreveu o primeiro-ministro numa carta endereçada à principal organização judaica do país, o Mazsihisz.

"Se o horror do Holocausto destruiu as vidas e os bens dos nossos compatriotas judeus, a perda foi de toda a nação, pois a comunidade judaica foi e será sempre parte integrante da nação húngara", prosseguiu.

Entre muitas outras iniciativas, a sinagoga de Hodmezovasarhely, no sul de Budapeste, inaugurou uma exposição de fotografias e objetos pessoais que pertenceram a celebridades húngaras vítimas do Holocausto, nomeadamente desportistas.

Na capital, o Presidente húngaro, Janos Ader, acendeu uma vela e depôs uma flor na margem do Danúbio, no local onde os milicianos fascistas húngaros do partido da Cruz de Flechas (fundado em 1935) fuzilaram judeus.

No Museu do Holocausto, foi inaugurada uma exposição de obras dedicadas às vítimas, da autoria do pintor György Kadar (1912-2002), ele mesmo um sobrevivente do Holocausto.

O ano de celebrações inicia-se numa altura em que as relações entre o Governo e as organizações judaicas estão mais tensas do que nunca.

A inauguração, prevista no centro de Budapeste, de um monumento "às vítimas da ocupação alemã" representa o diferendo, que ganhou novo fôlego depois da reeleição de Viktor Orban, a 06 de abril.

O memorial representa a Hungria sob a forma de um anjo atacado por uma águia, que será a Alemanha. A inauguração está agendada para 31 de maio.

Segundo os críticos, a escultura branqueia a história ao exonerar a Hungria da sua própria responsabilidade na aniquilação dos judeus húngaros.

Orban prometeu durante a campanha eleitoral dialogar com o Mazsihisz antes de avançar com o projeto, mas os trabalhos começaram apenas dois dias depois das eleições legislativas, havendo, desde então, algumas centenas de pessoas que se revezam para ocupar o local.

Em sinal de protesto, o Mazsihisz decidiu boicotar as cerimónias oficiais e o seu diretor-geral, Gusztav Zoltai, um sobrevivente da Shoah com 79 anos, demitiu-se.

O Mazsihisz exige também ao Governo o afastamento de um historiador controverso nomeado para chefiar um instituto nacional de investigação histórica, que classificou a deportação de 18.000 judeus em 1941 como um "procedimento administrativo para cidadãos estrangeiros".

"Esse monumento é uma vergonha, e nós vamos impedir a sua construção com os nossos corpos, se for preciso", disse a argumentista Fruzsina Magyar, organizadora das manifestações contra o memorial, citada pela AFP.

A comunidade judaica da Hungria é uma das maiores da Europa, com cerca de 120.000 membros, e é também, segundo um inquérito recente da União Europeia, a mais preocupada com um aumento dos preconceitos antissemitas.

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