O primeiro ano do pontificado de Francisco

O Papa que veio da América do Sul completa o primeiro ano de pontificado num retiro quaresmal, num processo de mudança interna da Igreja, que transformou Francisco numa estrela mediática, incomodada com a sua própria visibilidade.

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Notícias ao Minuto com Lusa
13/03/2014 11:42 ‧ 13/03/2014 por Notícias ao Minuto com Lusa

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Eleito líder da Igreja católica a 13 de março de 2013, ao longo do último ano, o primeiro Papa não europeu em mais de 13 séculos apelou à compreensão para as relações homossexuais e divorciados, alimentou o desejo de maior participação de leigos e das mulheres, pediu perdão por crimes sexuais de sacerdotes, iniciou a reforma do sistema financeiro do Vaticano e ordenou o reforço das doações para obras de solidariedade.

Depois de eleito, aquele que é para os católicos o representante de Deus na terra optou por viver como um mortal: dorme na residência dos cardeais, come na cantina comum, anda de autocarro e coloca em apertos o sistema de segurança da Santa Sé ao dispensar vidros à prova de bala e cumprimentar os fiéis anónimos na Praça de São Pedro.

A postura franca e descomplexada na relação com o mundo mediático, com homilias e discursos incisivos e concretos, transformaram-no numa estrela - é uma das figuras mais seguidas no Twitter e, segundo um estudo recente do Pew Research Institute, 84% dos 'posts' em que é citado são positivos, por comparação com o seu antecessor, Bento XVI, que só tinha 30% de 'feedback' positivo.

Mas essa visibilidade colide com o esforço do Papa argentino, de 77 anos, em promover uma "fé concreta" que chegue às pessoas. Por isso, pouco antes de se recolher para retiro quaresmal, com oito dezenas de cardeais, fez o aviso: "Temos de nos livrar dos ídolos, das vaidades e construir as nossas vidas com base no essencial."

Antes disso, numa entrevista ao Corriere della Sera, disse já que não se sentia confortável com a imagem pública de um super-herói dos tempos modernos.

"Eu não gosto... da mitologia do Papa Francisco", afirmou, acrescentando: "Pintar o Papa como uma espécie de super-homem, uma espécie de estrela, parece ofensivo", porque o "Papa é um homem que ri, chora, ressona e tem amigos como qualquer outro. Uma pessoa normal".

O sucesso mediático é tal que o grupo de jornais de Berlusconi lançou uma revista semanal denominada "O meu Papa" ('Il mio Papa'), que, em 60 páginas, junta abundantes notícias, detalhes e rumores relacionados com a figura de Bergoglio.

Em janeiro, foi capa da Rolling Stone, que elogiou o seu estilo menos institucional e mais tolerante para matérias como a homossexualidade e as casas de apostas indicam o seu nome como o favorito para Nobel da Paz.

O líder da Igreja Católica tem tentado usar esta visibilidade na busca de um discurso mais concreto sobre a fé e as suas implicações quotidianas. Por isso, defendeu maior abertura à participação de divorciados na liturgia, relativizando o falhanço do matrimónio, um dos sacramentos invioláveis da religião.

"Quando o amor falha, e falha muitas vezes, temos de sentir a dor desse falhanço, acompanhar as pessoas que sentiram o falhanço do amor", mas "não se deve condenar", recomendando aos católicos e à hierarquia que "estejam próximos" de quem viu os seus casamentos acabar.

E é o regresso pleno dos divorciados à Igreja que está a marcar o debate interno dos últimos meses, com reuniões de cardeais e teólogos para discutir se esses crentes podem voltar a comungar.

Pesquisas recentes indicam que 75% dos europeus estão descontentes com a doutrina da Igreja em relação à sociedade, um valor que se mantém também elevado em regiões de forte implantação católica como a América Latina (67%) ou a América do Norte (59%). Apenas em África, as opiniões desfavoráveis atingem valores mais reduzidos (19%).

Mas as sucessivas tomadas de posição do Papa parecem estar a atrair de novo alguns fiéis na velha Europa. Em França, onde apenas 3% da população se identifica como católica e praticante, a hierarquia diz que as missas começam a ter mais fiéis com a eleição de Francisco.

"Antes não era fixe ser católico, agora é", resume Odon Vallet, um historiador francês das religiões.

A reforma do modelo financeiro da Igreja é outra das prioridades de um Papa, que prometeu acabar com a "gestão de opulência" do Vaticano. Para isso nomeou um novo responsável das finanças, o cardeal George Pell, que irá impor orçamento anuais e regras de funcionamento de acordo com os padrões internacionais.

À rigidez formal de Bento XVI sucedeu um estilo mais paroquial de um Papa, devoto do Concílio Vaticano II, que já disse que quer introduzir mudanças graduais na relação da Igreja com o mundo mas também assumir os erros do passado recente, como foram os casos de abusos sexuais de religiosos em vários países.

Mais do que uma mudança estrutural, Francisco tem insistido nas alterações do discurso e tem apostado nas novas tecnologias para chegar a mais gente.

Por isso, considerou que a "Internet oferece imensas possibilidades para o encontro e solidariedade", apelando aos católicos para "ousarem serem cidadãos do mundo digital", procurando assim evangelizar através destes novos meios.

"Parece que os cardeais foram procurar o novo pontífice no fim do mundo", disse, convidando os fiéis "a tomarem o caminho da fraternidade, do amor" e "da evangelização".

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