Desde o início, a viabilidade económica da Tesla tem sido repetidamente questionada. Os céticos, convencidos do poder infinito dos combustíveis fósseis no mercado automóvel, repetem há anos que não será possível massificar a utilização dos carros elétricos, devido às limitações de autonomia e aos elevados níveis de investimento necessários para mudar o mercado. 

Em resposta, o multimilionário Elon Musk tem garantido que a ambição de mudar o mundo não tem fim. Custe o que custar, garante o presidente a Tesla, é preciso mudar o mundo automóvel com inovações tecnológicas e carros de emissões zero, sem sacrificar o estilo, luxo ou desempenho. 

O primeiro passo do plano de domínio do mundo foi apreciável: o Tesla Roadster, um carro desportivo compacto que chamou as atenções, mas estava longe da perfeição. Os crónicos problemas de autonomia, o design pouco consensual e o preço elevado impediram a chegada à maior parte do mercado, mas não desviaram a Tesla do caminho pretendido. 

Seguiu-se o Model S, e um pico de popularidade da Tesla. Apesar do preço bastante alto, as linhas foram elogiadas por todos e as alterações provaram que era possível aumentar a autonomia para níveis nunca antes vistos, mantendo mesmo tempo um desempenho capaz de rivalizar com alguns dos mais potentes carros desportivos a gasolina. 

O Model X foi o terceiro degrau, bem como o primeiro tropeção. As dificuldades de produção do carro levaram a um atraso nas entregas, deixando muitos clientes à espera durante mais tempo do que o prometido pelo SUV elétrico. 

Os últimos meses foram de grande incerteza: de um lado os pessimistas garantiam que a Tesla não conseguiria ter liquidez, capacidade de produção ou margem de manobra para cumprir as enormes ambições de tornar os carros elétricos uma solução sustentável; do lado contrário, os crentes afirmaram sempre que a tecnológica continuava no caminho certo apesar de alguns imprevistos e acreditavam que o próximo modelo seria o momento do tudo ou nada. 

A conferência de apresentação do Model 3, no último dia de março, era portanto a hora da verdade. Dois dias depois de Elon Musk subir ao palco para apresentar o novo modelo 'low cost' da Tesla, há uma conclusão chave a tirar: a viabilidade dos carros elétricos pode ainda estar distante, mas nunca esteve tão perto. 

Os pouco mais de 31 mil euros pedidos por um veículo de marca Tesla, com muitos pormenores de luxo e uma autonomia surpreendente criaram uma onda de euforia em torno do Model 3 nunca antes vista. As longas filas à porta dos stands da marca de carros elétricos foram notícia em todo o mundo e em menos de 48 horas, o número de encomendas ascendeu a cerca de 135 mil e garantiu um encaixe de 120 milhões de euros tendo em conta os quase 900 euros exigidos a cada comprador pela reserva antecipada. 

As estimativas que circulam entre os analistas financeiros apontam para um encaixe potencial de 4,4 mil milhões de euros em vendas do Model 3, caso pelo menos 70% das reservas se transformem em vendas confirmadas. Para os especialistas, o número de encomendas significa a provável viabilidade financeira da Tesla e a transformação de uma mera promessa num colosso mundial do mercado automóvel. 

No discurso de apresentação do Model 3, Elon Musk agradeceu aos compradores que acreditaram na Tesla desde o início e ajudaram a financiar a criação dos modelos mais baratos através da aquisição do Roadster e Model S. 

Ainda assim, a incapacidade de produzir mais unidades está a diminuir as perspetivas da Tesla, pelo que um aumento dos veículos disponibilizados e das baterias produzidas será crucial para assegurar a estabilidade a médio e longo prazo. É preciso também lembrar que as pré-encomendas são totalmente reembolsáveis, pelo que o futuro desinteresse ou incapacidade de converter as reservas em vendas irá reduzir as receitas da Tesla e colocar novamente em risco o futuro da marca. 

Os próximos doze meses serão decisivos para manter o balanço pós-apresentação do Model 3, com os mercados e clientes a torcer para que a Tesla consiga evitar os habituais atrasos e consiga manter as promessas feitas por Elon Musk.