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Debate sobre riscos da procura interna é "totalmente ideológico"

O economista Francisco Louçã considera que é "totalmente ideológico" o argumento de que o aumento da procura interna levará ao desequilíbrio das contas externas, afirmando que a recuperação de salários e pensões acontece nos setores com rendimentos mais baixos.

Debate sobre riscos da procura interna é "totalmente ideológico"
Notícias ao Minuto

08:10 - 03/02/16 por Lusa

Economia Louçã

por razões totalmente ideológicas que surge o debate de que qualquer aumento da procura cria dependência externa. É mentira", afirma Francisco Louçã em entrevista à agência Lusa, considerando que o aumento do consumo pode ser dirigido à produção interna.

"Uma diminuição dos impostos sobre as classes mais abastadas aumenta as importações, mas um aumento das pensões para quem recebe 300 euros ou 400 euros, lamento muito, mas não aumenta importações nenhumas. Pode haver umas bolachas importadas, mas a maior parte dos produtos são produzidos em Portugal", disse o professor de Economia do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG).

Francisco Louçã considera que o aumento da procura acontece devido a "um pequeníssimo aumento nas pensões, a uma pequena recuperação de salários e a uma pequena redução da sobretaxa de IRS".

Para o antigo dirigente do Bloco de Esquerda, este aumento da procura é direcionado para "setores populares de baixos rendimentos, que não vão comprar automóveis" e, assim, aumentar as importações.

Ora, "o aumento da procura pode ser dirigido à produção interna", sendo satisfeito também por produção interna. Nesse caso, sublinha, "melhora a economia, não piora".

O economista é favorável a um aumento da procura interna pela devolução "às pessoas de rendimentos que eram delas" e pelo aumento do investimento, considerando que, para isso, é necessário "criar recursos suficientes, seja pelo sistema fiscal ou pela redução da dívida, ou pelos dois".

"O que falta verdadeiramente nesta economia e o que nos protegeria dos choques externos era recuperar a margem de manobra orçamental, reduzir substancialmente o défice por via da reestruturação da dívida. Não vejo outra solução para a economia portuguesa", afirma Francisco Louçã.

Insistindo na necessidade de reestruturação da dívida, o professor do ISEG lembrou o conto da lebre e da tartaruga: "Se a tartaruga não estiver dopada e se a lebre não adormecer, a lebre vai sempre ganhar à tartaruga. E se nós crescemos a 1,5% ou 2%, mas emitirmos dívida a 1%, estamos a ganhar, mas se emitirmos a 3% estamos sempre a aumentar a dívida. Portugal esteve sempre a aumentar a dívida até agora".

"O que precisamos é de poder refinanciar a economia portuguesa a custos que sejam suportáveis do ponto de vista do nosso crescimento para ganhar margens de manobra para o que falta, que é o investimento", salienta.

E se não houver uma reestruturação da dívida? "Não há solução", afirma Francisco Louçã. Apesar da possibilidade de criar incentivos fiscais para atrair investimento privado, isso será "muito insuficiente".

O ex-líder do Bloco de Esquerda alerta para a "grande imprevisibilidade" do contexto europeu e mundial, afirmando que "as condições externas podem mudar por completo as previsões" do Governo para este ano.

É que o economista afirma que "a possibilidade de uma tempestade perfeita existe mesmo", devido a uma bolha na Europa, pela situação de "liquidez a mais que não se traduziu em investimento", bem como a possibilidade de uma crise financeira aliada à recessão nos países emergentes, como o Brasil.

Ainda assim, o economista desdramatiza as críticas às previsões de crescimento de 2,1% contidas no esboço orçamental: "As previsões são praticamente uma intenção da política que é proposta, numa forma de condicionar os agentes, ou seja, de criar expectativas. Se o Governo dissesse que prevê uma retrocesso ou uma estagnação da economia teria pouca ambição, se prevê um pequeno crescimento da economia é acusado de ter ambição demais", salienta.

Por outro lado, Louçã defende que "se devia tirar as previsões do centro do debate", considerando que "o importante" é saber se a política permite "estimular a economia e aproveitar as oportunidades externas, e, portanto, aumentar o investimento".

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