"O Banco de Portugal e o Governo, ao criarem aquela solução do 'ring fencing' (blindagem), criaram uma pressão sobre o grupo não financeiro, quando devia ter sido o contrário, deviam ter ajudado o grupo financeiro, porque havia estudos que demonstravam, estudos independentes encomendados pelo Banco de Portugal e executados pela PricewaterhouseCoopers (PwC) - em março de 2014, quando o relatório foi entregue, que o grupo como um todo, numa lógica de conglomerado, tinha viabilidade, tinha sustentabilidade e tinha uma solução para resolver o problema", disse à agência Lusa José Poças Esteves, líder da SaeR.
Segundo Poças Esteves, "bastava ter tido o apoio intercalar que eliminasse aquela pressão de curto prazo que havia, sem se fazer uma venda apressada de ativos, que destruía valor e criava uma bola de neve negativa que acabou no colapso", apontando para o pedido de apoio de 2,5 mil milhões de euros para o Grupo Espírito Santo (GES) feito por Ricardo Salgado junto do executivo de Passos Coelho.
"Devia-se ter ajudado e não se devia ter aumentado a velocidade desta bola de neve, Atendendo ao peso que o banco e o grupo tinham na economia portuguesa, o facto de se constituirem um centro estruturante e de racionalidade da economia portuguesa, com decisão nacional, deveria, eventualmente, ter tido um outro tipo de acompanhamento ou um outro tipo de solução", sublinhou, acrescentando: "do lado do Governo, provavelmente, também não se entendeu que estávamos perante um caso estruturante da economia portuguesa e que se podia estar a pôr em causa o próprio modelo de desenvolvimento da economia portuguesa".
Poças Esteves defendeu que uma economia do tipo da portuguesa precisa de conglomerados mistos para se desenvolver e admitiu alguma estranheza pelo facto de não se ter ajudado a salvar o GES, mas apoiar-se a implementação de grupos semelhantes de capital estrangeiro em Portugal.
Sobre a resolução imposta ao Banco Espírito Santo (BES), o presidente da SaeR considerou que havia alternativas que podiam ter sido analisadas e que evitariam o seu desmembramento.
"Havia claramente outras medidas que podiam ter sido tomadas. A resolução foi uma delas, mas podia se ter capitalizado o banco, isso, seria sempre necessário, mas podia ser feito com dinheiros privados. Havia interesse de privados em capitalizar o banco. O próprio Banco de Portugal e o Governo tinham dinheiro disponível, a nível dos fundos europeus, e toda a gente o conhecia, que podiam ter sido usados para fazer a capitalização, neste caso, pública", vincou.
Na sua opinião, "o que se podia ter feito era diluir o capital que era do grupo - da família Espírito Santo e dos seus parceiros -, reduzindo-o mesmo a zero, se fosse esse o caso, e substituí-lo por outro capital público ou privado".
A 03 de agosto de 2014, o Banco de Portugal tomou o controlo do BES, após a apresentação de prejuízos semestrais de 3,6 mil milhões de euros, separando a instituição em duas entidades: o chamado 'banco mau' (um veículo que mantém o nome BES e que concentra os ativos e passivos tóxicos do BES, assim como os acionistas), e o banco de transição que foi designado Novo Banco.