O Governo de Pedro Passos Coelho antecipa que, no próximo ano, a economia portuguesa melhore em relação a 2014: o crescimento do PIB deverá ser de 1,5%, o défice de 2,7% do PIB (acima dos 2,5% acordados com os credores internacionais durante o resgate), a dívida pública de 122,7% do PIB e a taxa de desemprego de 13,4%.
Projeções que o Banco de Portugal acompanha ao prever que o crescimento em 2015 também será de 1,5%.
Mas este desenho da economia portuguesa é o mais otimista entre todos os que foram traçados pelas instituições internacionais, a começar pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pela Comissão Europeia, que integraram a 'troika' durante o Programa de Assistência Económica e Financeira, juntamente com o Banco Central Europeu (BCE).
O FMI é mesmo a organização com as previsões mais pessimistas e, portanto, mais divergentes das do Governo: a instituição liderada por Christine Lagarde espera que a economia cresça apenas 1,2% e que o défice seja de 3,4% do PIB.
O Fundo prevê ainda que a taxa de desemprego seja de 13,5% em 2015 e que a dívida pública atinja os 125,7%.
Já Bruxelas estima um crescimento económico de 1,3% e um défice orçamental de 3,3%, seis décimas acima do antecipado pelo Executivo e três décimas acima do limite de 3%, definido pelas regras europeias.
De acordo com o Pacto de Estabilidade e Crescimento, os países da União Europeia devem ter um défice abaixo de 3% no médio prazo.
Portugal, que está atualmente sujeito a um Procedimento por Défices Excessivos, deveria sair deste mecanismo em 2015, ano em que deveria ter um défice orçamental de 2,5%, tal como acordado com a 'troika', um compromisso em relação ao qual a Comissão Europeia tem reservas.
No parecer ao Orçamento do Estado para 2015, divulgado no final de novembro, Bruxelas alertou que o diploma "está em risco de incumprimento", em particular, de não cumprir a recomendação de alcançar um défice inferior a 3% do PIB.
Segundo os técnicos europeus, "o risco advém sobretudo dos pressupostos favoráveis quanto ao impacto orçamental dos desenvolvimentos macroeconómicos e da falta de medidas estruturais que sustentem" o orçamento.
Bruxelas fez ainda uma série de reparos: por um lado, considera que o esforço orçamental português "revela a necessidade de mais medidas estruturais de consolidação significativas para 2015" e, por outro, lamenta que Portugal tenha feito "progressos limitados em relação à parte estrutural das recomendações feitas pelo Conselho no contexto do Semestre Europeu de 2014".
Na sua avaliação à proposta orçamental de 2015, Bruxelas foi mesmo mais longe ao contrariar o argumento do Governo de que manter a meta do défice em 2015 (de 2,5% do PIB) implicava aumentar impostos, defendendo que "não deve ser dado como garantido" que a despesa não pode ser reduzida, apesar das decisões do Tribunal Constitucional.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), por seu lado, é a instituição internacional cujas previsões mais se aproximam das do Governo, ainda que sejam menos otimistas.
Para 2015, a organização liderada por Angel Gurría prevê um crescimento económico de 1,3%, um défice de 2,9% do PIB e uma taxa de desemprego de 12,8%, antecipando que a dívida pública se situe nos 128,1% e que as contas de Portugal com o exterior atinjam os 0,4% do PIB.
Do lado do Governo, a ministra das Finanças já disse que "não há qualquer razão para fazer outro cenário" além do apresentado, mas admitiu a possibilidade de haver retificações, já que Maria Luís Albuquerque disse estar disponível para "ajustar a estratégia se necessário".