Foi Vítor Bento que o assumiu em entrevista à SIC: “Não tinha interesse algum. [Aceitei] por dever patriótico”, descreveu o líder do Novo Banco quando comentava o facto de ter sido ‘convidado’ a assumir a liderança do BES após a saída de Ricardo Salgado.

Mas vamos por passos e falemos um pouco da sua personalidade. É conhecido entre os amigos por ser calmo e ter um forte sentido de humor. Os seus hobbies dividem-se entre a bricolage e a jardinagem, não gosta de dar nas vistas, dispensa eventos sociais de grande envergadura, e prefere um lugar sossegado para passar férias, ao invés dos badalados locais da moda.

Hoje, aos 60 anos, é um fervoroso adepto das novas tecnologias, nomeadamente os gadgets da Apple, e para comunicar mais rapidamente não se importa de trocar um “que” por um “k” e de usar aplicações como o WhatsApp. Gosta de escrever, de Fernando Pessoa, especialmente o heterónimo Ricardo Reis e do poema com a frase “põe quanto és no mínimo que fazes” e assume publicamente que o seu golfe “é escrever livros”.

Enquanto personalidade pública e política é das mais consideradas personalidades na área da economia. É, desde 2005, grande-oficial da Ordem do Infante D. Henrique, é ex-conselheiro de Estado, ex-presidente da SIBS, e ocupou cargos relevantes no Banco de Portugal.

Foi convidado, antes de escolhido Vítor Gaspar, para ocupar a pastas das Finanças quando Pedro Passos Coelho chegou ao poder. Declinou o convite. Fundou, na era de Guterres, o IGCP, foi presidente da Unicre e da SEDES.

É licenciado em economia, área onde sempre trabalhou, mas é na filosofia, disciplina em que tem um mestrado, que encontra a sua verdadeira paixão. Já escreveu vários livros, o primeiro, em coautoria com Vítor Gaspar, em 1993.

Nasceu e cresceu no seio de uma família humilde em Estremoz, ocupa hoje a cadeira no que resta do banco que já foi presidido pelo homem que a imprensa apelidou de ‘O dono disto tudo’ e entre os mais leigos é reconhecido por frases que tiveram quase tanto de proféticas como de polémicas, das quais recuperamos três, com base no trabalho do Económico.

“Entrou-se numa embriaguez de consumo e perdeu-se uma ideia fundamental em economia: a de que existe uma restrição orçamental, não só para o orçamento público, mas também para os orçamentos familiares”, afirmou em 2000, em entrevista ao Diário de Notícias. Cinco anos mais tarde, insistia no diagnóstico. “Os portugueses estão a viver muito acima das suas possibilidades”.

Recentemente, ainda este ano, em entrevista ao Diário Económico, deixou um aviso à classe política à qual nunca pertenceu diretamente, mas da qual nunca esteve afastado. “O que me preocupa é aperceber-me que há demasiada gente no mundo político e mediático que não parece perceber o que aconteceu e continua num quadro mental posicionado para repetir as asneiras feitas no passado”, atira.

Agora, num cargo que não procurou, mas que não hesitou em aceitar depois de consultar a família, Vítor Bento já não corre o risco de ver nascer cabelos brancos, como o próprio costuma ‘brincar’, tudo porque uma crise nervosa, em 2008, lhe roubou todo o cabelo no espaço de dias.