Apesar de a grande maioria dos líderes reconhecerem a importância de ser alcançado um compromisso e evitar um novo fracasso que transmita para o exterior a mensagem de que a União Europeia é incapaz de tomar decisões, o Conselho Europeu, com desfecho incerto, até a nível de datas - a reunião poderá "entrar" pelo fim-de-semana - arrancará sob o signo de fortes divergências.

Ao presidente do Conselho, Herman van Rompuy, que assumiu a liderança do processo negocial, cabe a difícil tarefa de tentar conciliar as posições dos países economicamente mais poderosos (e contribuintes líquidos para o "envelope financeiro" da UE), que reclamam cortes profundos, e dos países com economias mais frágeis, os chamados "amigos da coesão", como Portugal, que consideram "inaceitável" a proposta atualmente em cima da mesa.

Na quarta-feira, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, garantiu na Assembleia da República que Portugal terá uma "visão realista" e não rígida, tendo em vista tornar viável um acordo entre os 27 Estados-membros, mas considerou que "a proposta formulada pela presidência do Conselho é, a todos os títulos, inaceitável para Portugal", pelo que "bloquearia uma decisão do Conselho que tivesse essa proposta como resultado final".

A seu lado, na defesa por um "reequilíbrio" da proposta, Portugal tem os outros (14) países "amigos da coesão", como Espanha, mas também a Comissão Europeia liderada por José Manuel Durão Barroso, que se tem insurgido igualmente contra os cortes actualmente propostos, de cerca de 80 mil milhões de euros, nas mais diversas políticas, incluindo a de coesão.

Do outro lado, países como o Reino Unido ameaçam vetar todo e qualquer compromisso que não contemple fortes reduções orçamentais, em áreas como a Política Agrícola Comum, e a Alemanha, pela voz da chanceler Angela Merkel, já baixou as expetativas, desdramatizando o cenário de um eventual falhanço, ao referir que é sempre possível uma nova cimeira sobre o orçamento pós-2013 no início do próximo ano.

A cimeira terá início hoje às 20h00 locais (19h00 de Lisboa), mas será antecedida, ao longo do dia, de encontros bilaterais de Van Rompuy e Durão Barroso com cada um dos 27 líderes europeus, esperando o presidente do Conselho que, depois dessa ronda possa apresentar um novo projecto de conclusões, ou seja, uma última versão da proposta de orçamento, ao final da noite.

O encontro com Passos Coelho, no qual o primeiro-ministro dará conta da posição de Portugal, terá lugar às 15:30 locais (14:30 de Lisboa).

Antes, o chefe do executivo deverá manter encontros bilaterais com outros líderes europeus, desde a sua chegada à sede do Conselho (prevista para as 11h30 locais), tendo desde já em agenda uma reunião com o seu homólogo checo, Petr Necas, às 12h00.