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Estreia de ópera multimédia de Victor Gama cria floresta na Gulbenkian

A ópera multimédia '3 mil RIOS: Vozes na floresta', de Victor Gama, estreia-se hoje, em Lisboa, e irá "trazer a floresta para a sala da Gulbenkian", disse o compositor, que a definiu como "uma peça com um drama dentro".

Estreia de ópera multimédia de Victor Gama cria floresta na Gulbenkian
Notícias ao Minuto

10:20 - 06/05/16 por Lusa

Cultura Sala

A ópera resulta de um trabalho de campo na floresta tropical amazónica - Victor Gama deslocou-se oito vezes ao Amazonas, permanecendo, em cada delas, cerca de um mês, na floresta -, e o que "irá ressaltar para o público" é a ideia de que a ópera multimédia é um alerta sobre a devastação daqueles espaços verdes e do consequente risco para a sobrevivência humana.

Em declarações à agência Lusa, o compositor, que também assina o libreto, afirmou que a informação sobre a devastação das florestas e as consequências para a sobrevivência humana está a circular, "mas nós não conseguimos sentir a urgência de mudar as coisas, as políticas e os investimentos, e toda esta maquinaria desenfreada que se criou, que é um bocado imparável, que faz com que não nos apercebamos desta realidade. Portanto, quando tentamos falar dela, o que surge à superfície é que se está a falar de um emergência, de uma situação limite e é um bocado isso que se passa".

"Isto não é uma ópera no conceito a que habitualmente a associamos", advertiu o compositor, esclarecendo que "é uma ópera clássica, é uma ópera porque é cantada, é uma peça com um drama lá dentro - há umas pessoas que falam no vídeo, que funcionam como uma espécie de recitativo, que falam e comunicam coisas e que ajudam à transmissão da narrativa".

O libreto inicial da ópera era para ser escrito pelo politólogo colombiano Roberto Franco, autor de "Cariba malo", uma história da resistência dos povos indígenas da Amazónia, que morreu em 2014, num desastre de avião.

A peça, porém, "é baseada nesse livro de investigação, que é um ensaio sobre os povos que ainda hoje vivem em isolamento voluntário", na Amazónia colombiana e brasileira.

Durante a interpretação, em que a parte cénica é definida entre a imagem em vídeo e o som, haverá "uma interação entre o que se passa no palco e o vídeo que é projetado, entre as cantoras e o que é dito no vídeo", explicou o compositor.

"Vamos ter som em toda a volta da sala, vamos aproveitar os 18 canais de que dispõe a Gulbenkian, numa tentativa de introduzir as pessoas na floresta. A ideia é trazer a floresta para a sala da Gulbenkian, para perceberem o que é estar dentro de uma floresta destas".

A par da orquestra na sala, há também sons da floresta, gravados e editados pelo compositor, de forma a criar a "sua floresta". Há igualmente "um coro gravado".

A história que se conta, adiantou, é a da floresta que está agonizante, e dos povos que nela vivem.

A ação desta ópera multimédia decorre ao longo dos grandes rios amazónicos, de regiões como o Putumayo, o Caquetá, o Tocantins e outros como o Napi e o Timbiqui, na costa do Pacífico, e o Magdalena, que atravessa os Andes.

O compositor afirmou que o que o move é a preocupação pelas questões ambientais "e também políticas, nomeadamente os secretismos com que se tomam as grandes decisões que afetam o planeta e a nossa vida".

As línguas escolhidas para a obra foram o português e o espanhol e, no recitativo, há uma voz em inglês.

A ópera divide-se em três atos e tem uma duração aproximada de 90 minutos.

Rui Pinheiro dirige a Orquestra Gulbenkian, à qual se juntam os colombianos Pedro Ojeda e Urian Sarmiento (percussão), Salomé Pais Matos (toha), as sopranos Yetzabel Arias Fernández, Betty Graces e Té Macedo, que também toca marimba, e o próprio Victor Gama, que toca instrumentos por si criados, nomeadamente o toha, o acrux e o dino, e ainda o cantor colombiano Kaime Kiriateke, "que, pela primeira vez, viaja da sua aldeia na floresta colombiana".

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