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Um livro para perceber "fenómeno político inédito na Europa"

O jornalista Pedro Caldeira Rodrigues, com reportagens na Grécia ao serviço da Lusa, escreveu um livro para "tentar perceber" o que levou o partido de esquerda radical Syriza ao poder, "fenómeno político inédito na Europa".

Um livro para perceber "fenómeno político inédito na Europa"
Notícias ao Minuto

10:33 - 03/08/15 por Lusa

Cultura Grécia

O livro "O sobressalto grego", editado pela Arranha-Céus, com capa ilustrada por André Carrilho, será apresentado no teatro A Barraca, em Lisboa, na quinta-feira, pelas 19:00.

Para perceber como é que as eleições gregas foram ganhas pelo Syriza, "um partido da esquerda radical, que não é um partido de extrema-esquerda, nem é um partido comunista", mas com uma natureza própria, que explica ter conseguido votos junto do eleitorado de todos os outros partidos, "é preciso conhecer a história da Grécia", sustenta Pedro Caldeira Rodrigues.

"Estamos, de facto, num terreno novo", assinala o jornalista, formado em História, em entrevista à Lusa. Ora, tem faltado "enquadramento histórico" ao jornalismo sobre a Grécia, reconhece, realçando a importância do contexto.

Entre as reportagens realizadas em 2011/2012 e em 2015, a situação na Grécia degradou-se, mas já antes se percebia "a encruzilhada política, económica e social", recorda.

"E não foi pela vitória do Syriza que a situação social se alterou", até porque o partido está no governo há "muito pouco tempo". A Grécia está numa "situação completamente desesperada, com empobrecimento generalizado, milhares de pessoas a dormirem nas ruas, milhares de pessoas sem emprego", e, sobretudo, uma "total ausência de perspetivas", descreve.

"Para os gregos, isto foi um choque brutal", o que explica o "amplo movimento social transversal", que "ultrapassou completamente os partidos políticos e que depois teve expressão política no Syriza".

Porém, "todos os cenários políticos estão em aberto na Grécia", sublinha. Após "seis meses alucinantes de negociações entre Atenas e os credores internacionais", o desfecho "deixa antever que a situação vai continuar muito complicada, quer no relacionamento entre Atenas e Bruxelas, quer a nível interno", prevê.

"Se não são tomadas medidas rápidas para combater aquilo que o próprio Syriza designava por catástrofe humanitária (...), são de prever (...) algumas manifestações de protesto e, provavelmente, o regresso de alguma violência à Grécia, porque a situação continua muito, muito frágil", considera.

O partido Aurora Dourada, de extrema-direita neonazi, parece agora adormecido, depois de ter conquistado o terceiro lugar nas eleições. "Para já, não é o momento deles. A vitória do Syriza foi muito clara", explica o jornalista.

Mas a Aurora Dourada está só "à espera que algum eleitorado do Syriza se desiluda com a política" do novo Governo, alerta.

Calcula-se que entre 20 a 25% do eleitorado do Syriza "não acredita em políticos, nem na União Europeia, nem no euro" e está apenas "profundamente desesperado", resume. "Esse eleitorado pode ser facilmente atraído pela extrema-direita. Se o Syriza falhar, uma parte muito considerável do eleitorado vai passar diretamente para a extrema-direita", antecipa.

Pedro Caldeira Rodrigues reconhece que há "muito ruído" e "falta de rigor" na informação sobre o que se passa na Grécia e alerta para o perigo de se alimentar a ideia de "uns contra os outros, de alemães contra gregos, e vice-versa".

A Grécia foi o "grande laboratório de ensaio" da austeridade, mas, independentemente do grau de dureza das medidas aplicadas, a "diferença fundamental" em relação a Portugal é "uma tradição de luta e resistência".

Os gregos manifestaram-se contra aquilo que "consideravam ser uma ofensa total à sua dignidade como povo", distingue.

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