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Fernando Pessoa não era um homem solitário

O investigador Nuno Hipólito, que prefaciou e organizou "Cadernos, diários e escrita automática" de Fernando Pessoa, disse à Lusa que este título "desmistifica a ideia do poeta como um homem só".

Fernando Pessoa não era um homem solitário
Notícias ao Minuto

10:45 - 27/06/15 por Lusa

Cultura Nuno Hipólito

A obra, que inclui algum material inédito do autor da "Mensagem", faz parte de um coleção editada pela Parceria A. M. Pereira, que se propõe "mostrar Pessoa ao público em geral e menos académico", disse Nuno Hipólito.

"Cadernos, diários e escrita automática" é o segundo volume da coleção, e pretende "dar a conhecer a parte mais íntima do homem, e não a do poeta, nem da figura pública".

"Acho que é essencial, as pessoas terem uma ideia daquilo que ele fazia no dia-a-dia, quais eram os desejos, os desesperos, os seus medos", disse Hipólito.

No primeiro volume, "Pensamentos e citações", abordou os escritos de Fernando Pessoa, assim como os dos seus heterónimos, nomeadamente Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Bernardo Soares, entre outros.

Referindo-se a "Cadernos, diários e escrita automática", Nuno Hipólito afirmou à Lusa que a obra "afasta a cortina do mito e desmitifica um bocada aquela figura emblemática, fria e distante, mas mostrando uma parte muito rica que é o interior psicológico do poeta".

Fernando Pessoa (1888-1935) era "muito mais comunicativo, nomeadamente no meio cultural, do qual era um observador, mas também um participante e com vontade de mudança".

"Um dos mitos que esta obra desfaz é o de Fernando Pessoa como um homem só. Na realidade ele convivia muito, não só com um círculo de intelectuais, especialmente escritores, mas com outro tipo de pessoas, e era uma pessoa com muitas amizades", sublinhou Hipólito.

A obra, explicou o investigador, inclui "textos de caráter diarístico, a maioria dos quais datados, mas incluindo fragmentos soltos sem data".

"Pessoa escreveu para diários em períodos diferentes da sua vida e sempre de uma forma fragmentária, como aliás fazia para tudo o que escrevia", lê-se no prefácio assinado por Nuno Hipólito.

Afirma ainda o investigador que, pelo menos desde 1916, o poeta escreveu "uma quantidade apreciável de textos, muitos deles entre os mais claros sobre o seu estado de espírito quando escrevia".

A ideia da morte, explicou o investigador à Lusa, acompanhou o poeta, que assistiu à morte precoce do pai, e de alguns irmãos, assim com à da mãe em 1925.

"A preocupação pelas questões esotéricas corresponde a uma fase tardia do poeta, e acontece especialmente depois da morte da mãe", referiu.

Questionado sobre o posicionamento político-social, o investigador afirmou: "Fernando Pessoa era monárquico, mas reconhecia que era impossível implementar a monarquia em Portugal da forma correta. Como outros contarditórios seus, tinha ideais monárquicos, mas era convicto da realidade republicana".

O próximo volume desta coleção, já no prelo, será dedicado àa "Quadras", de Pessoa, e segundo disse à Lusa fonte editorial, revela "um poeta mais popular, em que demonstra reconhecida mestria, num formato literário em que toca temas muitas vezes ausentes de maneira tão explícita no resto da sua obra, como o humor ou o universo feminino".

A Parceria A. M. Pereira, fundada em 1848, é mais antiga editora portuguesa, na qual Fernando Pessoa, em 1934, publicou o seu único livro editado em vida, "Mensagem".

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