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Académia quer formar fadistas portugueses e franceses em Paris

A Académie de Fado, na região de Paris, quer formar a próxima geração de fadistas de Paris e alargar o fado aos franceses, disse à Lusa Valérie do Carmo, a diretora da academia.

Académia quer formar fadistas portugueses e franceses em Paris
Notícias ao Minuto

09:21 - 27/06/15 por Lusa

Cultura Fado

A lusodescendente, formada em Direito, nunca virou as costas à música, depois de ter estudado solfejo e guitarra clássica no Conservatório de Paris, tendo criado a academia de fado há cerca de um ano porque "o fado faz parte" da sua vida.

"Nós estamos fora de Portugal, longe da cultura portuguesa, da língua, da literatura. O fado foi o vínculo que me permitiu estar sempre ligada a Portugal e à língua portuguesa, porque desde criança que pratico o português - nem que seja a ouvir o meu pai e a tentar cantar como ele. Achei que fosse importante continuar com essa vontade de trazer o fado aqui a Paris e foi assim que surgiu a ideia de criar a academia de fado", descreveu.

Residente em Vincennes, às portas da capital francesa, a jurista de 39 anos soube que a antiga proprietária da escola de música da cidade ia para a reforma e decidiu agarrar a oportunidade, tendo-se aliado a uma bailarina com origens espanholas, Anita Losada, para retomar a direção da escola e criar uma academia de fado e uma academia de flamenco.

"Ao princípio as pessoas até diziam: 'Uma escola de fado? Não é preciso, o fado não se ensina numa escola!' Mas aqui em Paris nós não temos oportunidade de ir a um restaurante de fado, sentar ao pé de fadistas e aprender. Isso não acontece", justificou Valérie do Carmo.

A também cantora explicou que "a academia de fado é a única escola de fado em Paris e nos arredores de Paris", acreditando mesmo que "seja a única em França", tendo cerca de 40 alunos, enquanto a instituição da qual faz parte, a Académie des Musiques et Danses du Monde, tem "quase 300".

Valérie do Carmo convidou músicos conhecidos no circuito do Fado em Paris para darem aulas na escola, como Filipe de Sousa, diplomado em Musicologia na Universidade de Paris 8, que tem acompanhado várias gerações de fadistas residentes na capital francesa.

Filipe de Sousa nasceu em França, foi para Portugal quando era bebé e aos onze anos voltou para França, tendo entrado na música como autodidata, através da guitarra clássica que aprendeu "com malta na rua".

O músico experimentou vários estilos, "desde jazz, blues, tango argentino, montes de músicas diferentes", sem nunca estar satisfeito, até ao dia em que comprou, em Lisboa, "uma guitarra portuguesa assim baratinha, por curiosidade" e começou a ter aulas com Carlos Gonçalves, guitarrista de Amália Rodrigues durante vários anos.

"Quando voltei a Paris, comecei a acompanhar as pessoas que cantavam o fado. Foi muito rápido. O meio do fado é bastante pequeno, toda a gente se conhece e lá consegui o meu lugarzinho. O fado revelou-se ser um tipo de música que me atraiu naturalmente sem eu me pôr questões de estilo ou de estética, era uma coisa mais natural", contou.

Filipe de Sousa já acompanhou vários fadistas portugueses que se deslocaram a França para dar espetáculos, como Mísia, Nuno de Aguiar e Diogo Rocha, e outros músicos de diferentes estilos musicais como a francesa Lizzie, a portuguesa Bévinda, o franco-português Dan Inger dos Santos, o quarteto argentino Cedrón ou o angolano Lulendo.

O músico dá aulas de guitarra portuguesa na Académie de Fado e tem vários alunos, "a maioria são lusodescendentes", mas também há franceses "que adoram o fado".

Linda Mergulhão é uma das alunas e "desde sempre quis tocar guitarra portuguesa", assim como Artur Matos, de 58 anos e há 52 em França, que nunca tinha tocado nas cordas de uma guitarra e quando a academia abriu, resolveu "fazer o que queria fazer desde pequenino" e aprender.

Durante o ano letivo, nas últimas quartas-feiras de cada mês, a Académie de Fado junta professores e alunos num espetáculo improvisado de fado no café cultural Lusofolie's, no centro de Paris.

A Académie de Fado tem como "padrinhos", desde maio, o músico e produtor português Jorge Fernando e o músico e cantor Miguel Ramos, vencedor de "A Grande Noite do Fado" em 1996.

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