Os ensaios para a peça, apresentada por atores amadores recrutados na comunidade, já começaram sob a direção de Graeme Pulleyn, um encenador inglês radicado em Portugal que confessa ter uma grande paixão pelo teatro radiofónico.

"Em Inglaterra ainda é uma coisa que acontece. Há um canal da BBC que tem entre outras coisas rádio novelas, ficção, coisa que aqui em Portugal há relativamente pouco", diz Graeme Pulleyn.

O encenador, que pela primeira vez dirige uma radionovela, assume que o grande desafio deste projeto é criar imagens na mente dos ouvintes.

"No palco estamos a ouvir e a ver as coisas ao mesmo tempo. Agora, estamos a ouvir e estamos a ver apenas na nossa imaginação. O nosso trabalho é pintar estas imagens e escrever estas palavras no ar para que as pessoas possam imaginar e ver como se fossem reais", explicou Graeme Pulleyn.

O dramaturgo Fernando Giestas, que escreveu a peça, também realça o papel que a voz tem no teatro radiofónico, adiantando que "há um maior foco sobre a palavra".

"Aqui tenho que imaginar uma imagem que não existe. As pessoas não vão ver o ator a levantar-se e a caminhar em direção a outro ou até, por exemplo, quem é que está a falar", disse.

A peça desenvolve-se em torno de uma mesa, um lugar "muito teatral", na opinião de Fernando Giestas, onde "a palavra sai mais facilmente, porque estamos a saciar a fome a beber uns copitos".

A interpretar o papel de mesa estará Júlia Cavaz, de 49 anos, uma gestora de 'call center', que recomeçou a fazer teatro amador há cerca de dois anos.

"Esta é uma mesa já antiga. Já por lá passaram muitas pessoas. Já viu muita coisa. E, de facto, está cansada de a usarem de uma maneira não tão meiga quanto deviam fazer ou empurrando-a ou pondo-a a um canto", conta a atriz.

O elenco da peça é composto por nove atores amadores recrutados na comunidade que não vão ser vistos pelo público e que, por isso, não vão precisar de memorizar o texto, o que promete facilitar a tarefa.

No entanto, Júlio Coelho, outro dos atores, alerta que isso "pode tornar-se uma dificuldade", porque podem esquecer-se de representar.

"Penso que vão ser mais facilidades que se poderão tornar ou não dificuldades, que é o facto de podermos ter o auxílio de ter o texto connosco e não o decorar", disse este professor de educação física, de 44 anos.

Este momento de teatro radiofónico estreia em 103.9FM e no Jardim Henriqueta Maia no dia 30, pelas 20:30, altura em que os convidados da Casa Aberta, outra iniciativa do festival, estarão a jantar nas casas e becos do centro histórico de Ílhavo.

Através da mesma frequência radiofónica vai ser ainda possível ouvir as músicas e dedicatórias dos ouvintes, além das notícias do quotidiano dos habitantes do centro histórico de Ílhavo.

O programa do Festival Radio Faneca, que se realiza de 29 a 31 de maio, inclui exposições, concertos, performances e brincadeiras, em ruas, becos, travessas, jardins ou vielas, transformados em palcos inusitados.