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'Enigma da Chegada' de Nobel é publicado em português

O livro 'O Enigma da Chegada', de V. S. Naipaul, Prémio Nobel da Literatura, considerado uma das obras mais introspetivas do autor, foi agora publicado em Portugal, pela primeira vez.

'Enigma da Chegada' de Nobel é publicado em português
Notícias ao Minuto

14:57 - 30/03/15 por Lusa

Cultura Literatura

V.S. Naipul, escritor britânico de origem indiana, natural de Trindade e Tobago, publicou o romance 'The Enigma of Arrival' em 1987, após um interregno de quase oito anos sem editar.

'O Enigma da Chegada' conta a história em "redor da casa de Jack" na Inglaterra rural, com "prolongados olhares" sobre colinas, rios, campos de cultivo, quintas, monumentos e povoações que rodeiam o ponto central do romance.

"Para escrever sobre Jack, a sua casa, o seu jardim, foi-me necessário ter vivido uma segunda vida no vale e ter conhecido nesse vale, um segundo despertar para o mundo natural" (página 126), escreve Naipaul.

O título da obra, com referências autobiográficas, surge de um pequeno livro que se encontrava na "casa de Jack": "A Pequena Biblioteca de Arte", com reproduções das primeiras obras do pintor italiano Giorgio Chirico, nascido em Volos, na Grécia.

"Entre estes quadros, havia um que, talvez por causa do título, me chamou a atenção: 'O Enigma da Chegada'. Senti que, de uma forma indireta, poética, esse título remetia para algo que eu próprio vivera; e mais tarde, fiquei a saber que não fora o pintor que dera o título a esse quadro surrealista, mas sim o poeta Apollinaire, que morreu jovem, em 1918, de uma gripe subsequente a um ferimento de guerra, para grande pesar de Picasso e de muitos outros" (página 128), escreve o autor sobre a descoberta na "casa de Jack", em Inglaterra.

No longo posfácio que acompanha a edição, Naipaul explica que, durante muitos anos, tinha pensado em escrever um livro como "O Enigma da Chegada": primeiro como uma viagem e "através dos modos de ver" de um escritor mas que, na verdade, foi um trabalho jornalístico que o impulsionou para o romance - a Convenção do Partido Republicano, em Dallas, nos Estados Unidos, em 1984, a pedido a New York Review of Books.

"Não encontrei nada que valesse a pena, sequer um parágrafo (...), e deprimia-me pensar que milhares de zelosos jornalistas se limitariam a procurar palavras diferentes para escreverem artigos que, na realidade, já tinham sido escritos para eles", recorda Naipaul.

O autor, nascido em 1935, prémio Nobel da Literatura em 2001, recorda depois uma sequência de factos ocorridos na década de oitenta e que começam durante a visita efetuada a Berlim Ocidental na mesma altura em que Indira Gandhi é assassinada mas, sobretudo, a hemorragia cerebral que acaba por vitimar a própria irmã, Sati.

Por causa da morte da irmã mais nova, Naipaul escreve que foi forçado a enfrentar a morte, a dor e a melancolia e que foi levado a ver que a vida - o ser humano -, "era o mistério" e que a verdadeira religião dos homens são "a dor e a glória"

"E foi então que, perante uma morte concreta, e imbuído deste novo sentimento de assombro perante os seres humanos, pus de lado os meus rascunhos e hesitações e comecei a escrever, muito rapidamente, acerca de Jack e o seu jardim", confessa o escritor, autor de títulos como "A Curva do Rio", "Uma Casa para Mr. Biswas" ou "Para Além da Crença".

"O Enigma da Chegada" (Editora Quetzal, 439 páginas), publicado pela primeira vez em português, foi lançado este mês com tradução de José Vieira de Lima.

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