Empresas e instituições levam cultura lusa a Washington
Iberian Suite, a maior iniciativa de sempre dedicada à arte contemporânea portuguesa nos Estados Unidos, que acontece em Washington até ao próximo dia 24, foi possível com o apoio de mais de uma dezena de empresas e instituições privadas.
© Reuters
Cultura Estados Unidos
"Nos últimos anos foi mudando a forma como as empresas portuguesas foram olhando para a cultura, no sentido de considerar que faz parte também da sua responsabilidade social o apoio a esta área", disse o secretário de Estado da Cultura do Governo português, Jorge Barreto Xavier, à agência Lusa.
O grande encargo da iniciativa, que custa seis milhões de dólares (cerca de 5,38 milhões de euros), pertence ao Kennedy Center. O Estado português contribui com cerca de 500 mil euros, mas a contribuição do país vai muito além desse valor.
Alguma da programação, que leva até Washington uma centena de artistas portugueses, durante três semanas, foi apenas possível devido a apoio de empresas como a Sofalca, Solancis, EDP, Caixa Geral de Depósitos e Logoplaste, associações, como a Vinhos de Portugal, e instituições, como o Arte Institute e a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD).
A cortiça e parte da mão de obra que tornou possível o elétrico do artista Nuno Vasa, por exemplo, foi cedida pela empresa Sofalca e apoiada pela FLAD, através do Arte Institute.
"O grosso da nossa faturação [vem dos] isolamentos. É algo que não se vê, está escondido, por isso é o oposto deste trabalho tão visível", explicou o dono da empresa, Paulo Estrada, à agência Lusa.
"Nos últimos anos, começámos a trabalhar com artistas e estamos sempre a aprender, porque nos pedem coisas que nunca fizemos e isso leva-nos a experimentar e testar limites", acrescentou o responsável da Sofalca - Sociedade Central de Produtos de Cortiça.
O empresário considera, no entanto, que o grande objetivo destas participações "é sempre a visibilidade que dão à empresa e a expectativa de que isso se traduza em vendas."
O administrador da AICEP Pedro Pessoa e Costa diz que este apoio do setor privado representa "um reconhecimento geral do potencial económico das industriais culturais e criativas portuguesas".
"A cultura tem um efeito multiplicador na economia e nas exportações que as empresas reconhecem", disse o gestor da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), à agência Lusa.
Esse efeito multiplicador é, aliás, visível nas lojas do centro cultural, onde a AICEP colocou à venda dezenas de produtos portugueses, como azeites 'gourmet', azulejos, lenços, porcelanas e peças em cortiça.
A diretora do Arte Institute, a organização baseada em Nova Iorque que promoveu a participação de vários dos artistas plásticos, músicos e atores no festival, diz que "as empresas nacionais são a fonte energética que viabiliza o processo criador e artístico".
"[Este evento] permitiu aliar a criatividade dos artistas portugueses com a inovação tecnológica das empresas nacionais que apoiaram o Arte Institute", garante Ana Ventura Miranda.
A responsável diz mesmo que o modelo da organização "é um 'case study' de como juntar o modelo tradicional das instituições culturais europeias com o método de angariação norte-americano, em que uma organização sem fins lucrativos tem de ser autossustentável e angariar os seus próprios fundos".
Ainda antes de entrar no Kennedy Center, os cerca de 400 mil visitantes esperados passarão por uma instalação dos arquitetos Eduardo Souto de Moura e Álvaro Siza Viera, intitulada "Jangada de pedra", inspirada num romance de José Saramago, que foi construída com o apoio da Solancis - Sociedade Exploradora de Pedreiras.
Além de doar a pedra, a empresa enviou funcionários para a montagem da instalação em Washington. Nos dias antes do festival, estes funcionários trabalharam noite dentro, com temperaturas negativas, para terminar a obra.
Jorge Barreto Xavier, em declarações à Lusa, que, "de 2008 a esta parte, por causa do contexto económico, houve uma redução do apoio ao mecenato", mas que a forte participação neste evento é um dos sinais de que a situação está a mudar.
O responsável lembra que, já em 2015, o Governo aprovou um conjunto de novos benefícios fiscais em sede de mecenato.
"É uma revisão que tem um impacto muito grande porque, nos últimos 20 anos, nada tinha sido feito a esse nível", diz, mas recusa que a participação no Kennedy Center seja já resultado da nova legislação.
"Vejo o que está a acontecer como parte de um movimento", concluiu o secretário de Estado da Cultura.
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