Até às 18:00 de hoje, hora de encerramento do Castelo de São Jorge, nove dos 12 artistas - dos quais oito expõem artigos de pintura, escultura, bijuteria e materiais reciclados, três são músicos e um é massagista - tiveram de deixar o espaço onde alguns estão há quase 20 anos.
Em causa está uma decisão da Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC), que criou em julho um programa de capacitação para estes artistas.
Pedro Roberto, que está no castelo há 21 anos a pintar com café e que é também presidente da Associação Portuguesa de Artistas Plásticos São Jorge, acusou hoje a empresa municipal de utilizar a "Academia do Castelo" (nome dado à formação) para realizar um concurso que não era assim designado "nem tinha regras", para avaliar os artistas e decidir se se adequam ao novo conceito do monumento, "sem critérios de seleção".
A Lusa tentou obter esclarecimentos da EGEAC, o que não foi possível até ao início da noite.
Em situação indefinida estão duas artistas. Em fevereiro, a EGEAC deverá escolher uma destas artesãs para se juntar aos outros três com postos assegurados.
O músico João Bastos, há 18 anos no castelo, referiu à Lusa que "não houve justificação" para a sua saída, acrescentando que apenas lhe foi dito que se tratava de uma reestruturação do monumento.
Afirmando-se "perfeitamente injustiçado", deverá agora passar a conduzir minicarros que fazem turísticos pela cidade, os chamados 'tuk tuk', para "ajudar a pagar a renda", mas não vai desistir de tocar, "seja num casamento ou num divórcio".
Além disso, escreveu para o Mosteiro dos Jerónimos para tentar atuar no espaço.
O mesmo fez o holandês Arie van Os, que é massagista no castelo desde março de 2008. Vendo o último dia a chegar, optou por tentar, junto da Câmara de Lisboa, colocar a sua marquesa em miradouros na cidade e em Belém, mas ainda não sabe para onde irá.
Num comunicado hoje divulgado, os deputados municipais do CDS-PP exigiram à vereadora da Cultura do município, Catarina Vaz Pinto, esclarecimentos sobre esta situação.
Entre as questões enviadas pelos centristas com assento na Assembleia Municipal de Lisboa estão "quais foram os critérios para fundamentar a exclusão dos músicos/artesãos?" e "os vendedores foram, em algum momento, informados que seriam avaliados no final do programa de capacitação e que estaria em causa o seu local de trabalho?".
Os deputados perguntam ainda se "os artistas que pagavam uma licença para trabalhar vão ser substituídos por artistas contratados e pagos pela EGEAC".
Estes artesãos já contestaram a decisão junto da Câmara, da EGEAC e do provedor de Justiça, mas pretendem agora avançar com uma petição 'online', de forma a levar o assunto à Assembleia Municipal.