Em declarações à agência Lusa, António Filipe Pimentel revelou que a iniciativa "é inédita em Portugal, mas já muito comum noutros países", e levada a cabo por museus de grande projeção internacional, como o Louvre, em Paris.

"O chamado 'crowdfunding' nunca foi feito em Portugal para comprar uma obra de arte para um museu, mas é uma oportunidade de todos sermos mecenas. O museu é um equipamento público e pertence a todos. Desta forma podemos também exercer a nossa cidadania", sublinhou o diretor do MNAA.

António Filipe Pimentel indicou ainda que o parceiro nesta campanha será o semanário Expresso, que esta semana divulgou o nome do autor da tela, no valor de 600 mil euros.

"A obra pertence a um colecionador português. Nós queremos adquiri-la porque o MNAA tem uma grande coleção deste grande pintor português", sustentou, sem querer indicar mais pormenores da operação, que terá várias fases.

Recentemente, o Louvre, um dos museus mais visitados do mundo, recorreu ao "crowdfunding" para financiar a restauração de uma das suas obras mais importantes, a escultura Vitória de Samotrácia, datada de 190 antes de Cristo.

A operação do museu parisiense é feita por angariação através da internet e também com patrocinadores, já que o valor global do restauro desta obra-prima da escultura clássica é de quatro milhões de euros.

Para a tela de Domingos Sequeira, os valores são de outra dimensão, mas António Filipe Pimentel sublinhou que "qualquer pessoa pode contribuir, nem que seja com um euro".

"Nesta altura de dificuldades financeiras que todos conhecemos, 'o crowdfunding' tornou-se um mecanismo internacional bastante usado pelos museus. Em Portugal será a primeira vez", salientou o responsável, recordando que há dois anos o MNAA adquiriu um desenho de Domingos Sequeira para reforçar o acervo.

Esta iniciativa surge numa altura em que o pintor português vai ter cerca de três dezenas de obras expostas no Museu do Romantismo, em Madrid.

Intitulada "En el umbral de la modernidad. Domingos Sequeira, un pintor portugués", a exposição vai ser inaugurada às 19:00 da próxima segunda-feira, 11 de novembro, com a presença de responsáveis do Museu do Romantismo e do MNAA.

"É a primeira vez que é apresentada uma exposição dele [Domingos Sequeira] fora do país, e tem uma grande importância estratégica", salientou António Filipe Pimentel, indicando que a inauguração vai abrir a XI Mostra Portuguesa em Espanha, com a presença dos secretários de Estado da Cultura dos dois países.

De acordo com o MNAA - de cujo acervo são provenientes 28 obras em pintura e desenho, e mais uma tela, do Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto -- o convite surgiu do próprio museu espanhol.

As obras selecionadas são datadas das primeiras décadas do século XIX, altura em que o trabalho de Domingos Sequeira se encontrava no "umbral da modernidade", entre o Classicismo e o Romantismo, de um modo similar a Francisco de Goya, seu contemporâneo na cultura espanhola.

A exposição vai ficar patente na capital espanhola até 02 de fevereiro de 2014, numa organização conjunta do Museu do Romantismo e do MNAA, com o Ministério da Educação, Cultura e Desporto de Espanha e a Secretaria de Estado da Cultura de Portugal.